17 de maio de 2009 Paracatu-MG, Brasil
Recusando Ouro
“Não, agora não, obrigado” (Wilson Brumer, ex Secretário de Estado de Minas Gerais, recusando ouro da mineradora Kinross)
A mineradora canadense Kinross Gold Corporation de forma eficiente notificou e espalhou a notícia da contratação de Wilson Nelio Brumer para fazer parte da Diretoria da companhia, em abril p.p. E logo já estava na internet mundial que na reunião de 6 de maio na sede em Toronto, Brumer seria votado e nomeado.
Decorridos apenas dois dias o jornal brasileiro “ O Tempo” em tímida nota intitulada “Recusando Ouro” citou Wilson Brumer, ex Secretário de Estado de Minas Gerais, afirmando estar mais interessado em administrar seus próprios negócios.
A nomeação de Brumer foi interpretada como tentativa desesperada da Kinross para colocar suas atividades comerciais nas mãos de alguem com “trânsito e fluxo fácil “ nos órgãos governamentais, alguém com registro reconhecido por vender a grupos estrangeiros, ativos brasileiros de valor. A Kinross declara publicamente em seu “Código de Ética” que “pagamentos facilitadores” podem ser efetuados a autoridades governamentais no sentido de facilitar negócios em países estrangeiros.
Paralisada duas vezes, por dois processos legais, a Kinross impedida de construir uma gigantesca lagoa de rejeitos na periferia da cidade histórica de Paracatu, ameça fechar as portas no início do més. Sergio Dani, cientista e doutor em Medicina , PhD, que preside a ONG e Fundação Acangaú, vem há dois anos lutando reiteradamente para que a Kinross pague por seus débitos em Paracatu, esclarecendo que “os representantes da companhia choram lágrimas de crocodilo, pois sabidamente empresa alguma fecha as portas por problemas de ordem técnica, mas sim por pura incompetência”.
Os direitos de mineração em Paracatu foram adquiridos da Rio Tinto em 2006, uma das gigantes do setor minerário, por apenas 280 milhões de dólares americanos – “uma pechincha” nas palavras do geólogo Eupidio Reis, surpreso pelo baixo valor pago a maior reserva aurífera brasileira, em torno de 16 milhões de onças, equivalente a mais de 60% das reservas comprovadas de ouro da Kingross. O que Eupidio Reis não entendia era como a mina de Paracatu estimada em 10 bilhões de dólares americanos, podia ser vendida tão barato.
A verdade é que para os engravatados de Toronto o que parecia ser “uma pechincha” acabou por se transformar em pesadelo. Sergio Dani explica que, desde 1987 o projeto de mineração do ouro , pobremente embasado vem sendo igualmente, pobremente gerenciado, “a Kinross investiu meio bilhão de dólares para escalonar a produção da mina e tudo o que conseguiu foi evidenciar o erro crasso, a precariedade e intempestividade que envolvem a expansão do projeto”, diz Dani. Os danos sócio-econômicos e ambientais estão a descoberto para qualquer um que os queira constatar (ver fotos e vídeos em http://alertaparacatu.blogspot.com/ )
No sentido de explorar o mais baixo teor de minério (0.4g/ton) a mineradora compete com a população local e fazendeiros, para acesso a enormes volumes de preciosa água doce , gerando em retorno milhões de toneladas de lixo toxico – depositado em gigantescas represas , em sítios de fontes de água doce, destinadas a suprir as necessidades básicas desta cidade de 90.000 habitantes.
As explosões regulares no local da mina vem causando rachaduras em prédios e moradias nesta cidade do século XVIII.
O minério da mina em Paracatu é arsenopirita o que equivale a dizer que libera arsênio e ácido sulfúrico no meio ambiente, quando explorado e moído para ter o ouro extraído, arsênio é agente cancerígeno e o ácido sulfúrico permeia e contamina riachos e água subterrânea. O passivo contábil da Kinross em Paracatu compete com o valor de suas reservas de ouro – más notícias para os acionistas . Pergunta-se : algum acionista embarcaria nesta aventura de risco para o seu capital investido? A pergunta seguinte seria: Quanto o acionista realmente sabe a respeito?
A Kinross se empenha sobremaneira em esconder seus erros e desqualificar a comunidade cientifica de Paracatu , como quando oferecido um plano sustentável de retirada estratégica em 2007 , foi advertida por Serrano Neves , Procurador de Justiça e Curador do Conselho da Fundação Acangaú , “ Nós não vamos tolerar que uma companhia estrangeira venha nos rotular como tolos e idiotas “, então desafiado pela companhia mineradora transnacional.
“A mina de Paracatu está inserida na idade da pedra. O passivo é gigantesco e o risco de desaparecer “na calada da noite” é substancial”, adiciona Dani. Assim, não representa surpresa que o Sr. Brumer tenha recusado uma passagem de volta, para viajar ao passado da mina, ele concluiu.
A recusa de Brumer ao convite para tomar assento na Diretoria da Kinross abre espaço para especulações. Brumer trabalhou para a Billington , primeiro proprietário da mina em Paracatu. Brumer avalizou o projeto de expansão da Rio Tinto- Kinross quando era o secretário de Estado em Minas Gerais. Ele não disse, então, um “não, obrigado”. Presentemente, quando cresce forte a oposição ao projeto de expansão da mina, ele aparece e diz “agora não, obrigado!”
Indícios há que nenhum novo diretor da Kinross Gold Corporation receba rendimentos inferiores a US$100.000 ( cem mil dólares americanos) , mas as compensações de praxe. Como exemplo temos Tye Bart, o Presidente da Kinross que teve rendimentos e compensações de 10 milhões de dólares americanos em 2008. Difícil é imaginar se o Sr. Brumer obteria tanto quanto nos seus negócios no Brasil.
O que teria Brumer verdadeiramente recusado?
Cylene Gama
Gestora do www.serrano.neves.nom.br
Sources:
http://www.reuters.com/article/pressRelease/idUS239069+23-Apr-2009+MW20090423
http://www.otempo.com.br/otempo/colunas/?IdEdicao=1288&IdColunaEdicao=8485
http://www.alertaparacatu.blogspot.com/
http://www.kinross.com/corporate/pdf/management-information-circular.pdf
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Aguardamos seu comentário.