quinta-feira, 26 de março de 2015

21 de março de 2015: Ed Guimarães entrevista o Professor Márcio José dos Santos na Rádio Boa Vista FM

https://m.soundcloud.com/fm-reporter/entrevista-marcio

A contaminação da urina por arsênio constitui indício de intoxicação

Sergio U. Dani, de Berna, Suíça

O termo "contaminação" define a presença indesejada de uma substância noutra substância. A presença de uma substância tóxica e cancerígena como o arsênio, para a qual não existe dose segura, nos tecidos ou fluidos do corpo é uma contaminação e, ao mesmo tempo, indício de intoxicação. O valor de referência para a concentração de arsênio na urina é "zero microgramas por litro", conforme determinado em pelo menos duas amostras consecutivas de urina (manhã e tarde), em condições fisiológicas. Para efeito de normalização, a concentração de arsênio na urina pode ser expressa em relação à creatinina, nesse caso o valor de referência é "zero microgramas de arsênio por grama de creatinina". Qualquer valor acima de zero representa contaminação e constitui indício de intoxicação. Os sinais e sintomas da intoxicação podem ser avaliados através de exames clínicos e laboratoriais adequados.

terça-feira, 24 de março de 2015

Existe um ‘teor normal de arsênio na urina’?

Sergio Ulhoa Dani, de Berna, Suíça.

Arsênio é uma substância tóxica que comprovadamente causa um catálogo de doenças, inclusive diversas formas de câncer. O corpo não precisa de arsênio e não existe dose segura para uma substância venenosa como o arsênio. Alguns estudos e relatórios descrevem ‘intervalos de normalidade’ para a concentração de arsênio na urina. Um exemplo é o relatório da National Health and Nutritional Examination Survey (NHANES), publicado em 2010, com dados de milhares de pessoas de diversas idades, de diversas regiões dos Estados Unidos [1]. O critério de ‘normalidade’ empregado em relatórios como esse é estatístico, sem significado médico. Numa dada população cronicamente exposta ao arsênio, concentrações de arsênio na urina podem ser consideradas, do ponto de vista estatístico, ‘normais’ para aquela população. Do ponto de vista médico, e para o bem da saúde de uma pessoa, a concentração de arsênio na urina deve ser igual a zero. Uma única medida de arsênio na urina não espelha adequadamente a quantidade de arsênio armazenada cronicamente no corpo de uma pessoa. Uma forma de estimar essa quantidade é medir a variação circadiana da concentração do arsênio liberado dos ossos e excretado na urina. Essa variação pode ser estimada pela diferença das concentrações de arsênio das urinas da manhã e da tarde [2].

Referências:
[1] http://sosarsenic.blogspot.ch/2010/11/urinary-arsenic-determined-in-large-us.html
[2] Dani SU. Osteoresorptive arsenic intoxication. Bone. 2013;53:541-5.

sábado, 14 de março de 2015

Intoxicação crônica por arsênio: esclarecimento à população de Paracatu

Por Sergio Ulhoa Dani (*), de Berna, Suíça

A mineradora transnacional Kinross [1] afirma que não há risco de intoxicação crônica por arsênio em Paracatu. Antes de tudo, gostaria de esclarecer que a Kinross não tem competência para fazer diagnóstico e aconselhamento médico em Paracatu e nem tampouco está numa condição ética que lhe permita faze-lo, vez que a Kinross é a própria autora da contaminação ambiental por arsênio e outras substâncias tóxicas em Paracatu.

Ninguém – nem mesmo a própria Kinross – pode negar que as quantidades exorbitantes de arsênio que a Kinross libera da rocha dura em Paracatu representam um risco à saúde. Gostaria de citar apenas dois dos diversos estudos realizados em Paracatu que caracterizam essa situação de risco. Um estudo da Universidade de Lavras, financiado pela própria Kinross e publicado em 2011 indica que uma fração do arsênio que a Kinross libera em Paracatu está bioacessível [2]. Isso quer dizer que o arsênio liberado é absorvido pelas plantas, animais e seres humanos. Um estudo independente da Universidade Federal de Minas Gerais comprova que o arsênio liberado pela Kinross já está passando para a cadeia alimentar [3].

Em Paracatu, uma importante via de exposição ao arsênio é a respiratória. Em seu “Relatório de Desenvolvimento Sustentável” de 2003 (página 14), a Kinross mostrava que a quantidade de arsênio na "poeira fugitiva" da sua mina de ouro a céu aberto em Paracatu aumentou de 3,42 kg em 2001, para 5,79 kg em 2002, e para 6,10 kg em 2003. Parece pouco, se comparado com as centenas de milhares de toneladas de arsênio que a mineradora libera da rocha dura em Paracatu. Mas, apenas um grama de um composto oxidado de arsênio é suficiente para matar 7 pessoas adultas. Quantidades bem menores podem causar um catálogo de doenças crônicas, inclusive diversas formas de câncer. Em 30 anos de mineração e liberando, em média, 5 kg de arsênio na poeira todos os anos, a Kinross seria responsável pela administração de uma dose letal para mais de um milhão de pessoas, ou um número muito maior de pessoas, se considerarmos os efeitos crônicos do arsênio.

Os gases, aerosóis e poeira são facilmente inalados por via respiratória e assim penetram rapidamente no corpo humano. Os compostos de arsênio são absorvidos muito rapidamente pelos pulmões e intestinos, enquanto a absorção através da pele é comparativamente lenta [4]. A absorção de matéria transportada pela atmosfera contribui significativamente para a quantidade total de arsênio absorvida [5].

Não existe dose segura para uma substância cancerígena como o arsênio. Parte do arsênio absorvido é eliminada do corpo, principalmente através da urina. Outra parte é incorporada aos tecidos, principalmente os ossos, onde o arsênio toma o lugar do fósforo nos cristais de hidroxiapatita. Essa parte é eliminada muito lentamente.

Na prática, a eliminação do arsênio pelo corpo não é completa, e se divide em duas fases: uma rápida e outra muito lenta. Na medicina e na farmacologia, dá-se o nome de meia-vida inicial de uma substância ao tempo necessário para que metade dessa substância seja eliminada pelo corpo. A meia-vida inicial do arsênio varia de horas a dias ou semanas. A meia-vida terminal refere-se ao tempo necessário para que metade da substância ligada aos tecidos seja eliminada. A meia-vida terminal do arsênio varia de meses a anos ou décadas.

A meia-vida terminal do arsênio está muito aumentada em pessoas expostas cronicamente ao arsênio, como os habitantes de Paracatu. Mesmo as pessoas que deixaram a cidade fugindo do arsênio carregam consigo esse ônus da mineradora Kinross.

Uma pessoa cronicamente exposta ao arsênio acumula esse veneno nos ossos. Os ossos são uma espécie de reservatório do veneno. Todos os dias da vida dessa pessoa, parte do arsênio presente nos ossos é mobilizada para a circulação sanguínea. Isso mantém a intoxicação crônica, mesmo depois que a vítima deixou de se expor ao arsênio. O dano causado é persistente.

Em 2012, quando trabalhava na Universidade de Heidelberg, na Alemanha, descrevi o mecanismo da intoxicação osteoressortiva pelo arsênio em uma paciente proveniente de Minas Gerais [6]. A intoxicação crônica favorece o aparecimento de diversos tipos de câncer, além de um catálogo de outras doenças. A relação entre exposição crônica ao arsênio e diversas doenças, especialmente câncer, está muito bem documentada em centenas de estudos realizados em diversos países do mundo.

O caso de Paracatu é um escândalo. Os órgãos do governo concederam autorização para mineração em zona urbana. Mas, ninguém concedeu autorização para expor a população ao veneno! Está muito claro que a mineração em zona urbana conforme conduzida pela Kinross é incompatível com a proteção do meio ambiente e da saúde da população. Esses são princípios constitucionais, nenhuma lei ou ato do poder executivo pode desrespeitar esses princípios.

Tecnicamente, a mineradora está cometendo um genocídio culposo em Paracatu. Pelo ordenamento jurídico brasileiro, genocídio culposo não gera processo criminal, mas gera a obrigação de indenizar.

Um dos objetos da Ação Civil Pública proposta pela Fundação Acangau em 2009 contra a Kinross e a Prefeitura de Paracatu é fazer o monitoramento clínico-laboratorial de toda a população de Paracatu. Esse é um estudo amplo, exige financiamento, planejamento e logística adequados. O estudo deve ser coordenado e conduzido por médicos e cientistas com competência comprovada através de currículo e independentes da mineradora e do governo. A mineradora tem a obrigação de custear o estudo. O Ministério Público deve exigir o custeio, mas a contratação da equipe deve ser independente da mineradora e do governo.

Uma medida que deve ser exigida é a prestação de caução pela mineradora, para a indenização das pessoas afetadas pela mineração. A Kinross está fazendo de tudo para escapar dessa obrigação. A mineração de ouro em Paracatu só é rentável para a Kinross porque está sendo financiada pela contaminação ambiental (geocídio) e a intoxicação crônica de milhares de seres humanos (genocídio).

Cada indenização pode alcançar a cifra de milhões de dólares. Multiplicando-se esse valor pelo número de habitantes de Paracatu, chega-se às cifras dos bilhões de dólares. Entende-se porque a mineradora quer encobrir os danos que ela causa.

Hoje, a população de Paracatu está muito mais esclarecida e mobilizada que há 8 anos, quando ninguém falava sobre os riscos do arsênio, simplesmente porque não havia sido informado sobre os riscos pela mineradora ou pelas autoridades governamentais. Somente 20 anos após o início da mineração, a população foi informada, não por iniciativa da mineradora, mas por iniciativa de médicos, cientistas, advogados, fotógrafos, cinegrafistas, jornalistas, o Ministério Público e até mesmo artistas, poetas e cantadores.

Considero que cobrimos bastante chão nesses anos, no sentido do esclarecimento da população sobre os riscos e danos provocados pela mineração de ouro. As provas disso são os estudos científicos publicados em revistas especializadas de circulação internacional, as denúncias e matérias publicadas em veículos de circulação local, nacional e internacional [6]. Mas muito ainda há para ser feito nos próximos anos, principalmente no sentido do monitoramento, indenização e saneamento.

Referências e notas:

(*) Médico e cientista do Departamento de Oncologia Médica da Universidade de Berna, Suíça. Colaborador e fundador do Instituto Medawar da Fundação Acangau de Paracatu. Conduziu estudos sobre intoxicação crônica por arsênio em colaboração com as seguintes instituições: Instituto Medawar (Fundação Acangau), Centro de Pesquisa de Jülich (Forschungszentrum Jülich), Alemanha; Universidade Técnica de Freiberg (TU Bergakademie Freiberg), Alemanha; Departamento de Medicina Interna e Laboratório Clínico da Universidade de Heidelberg, Alemanha, Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade de Tübingen, Alemanha.

[1] A Kinross Gold Corporation (TSE-K; NYSE-KGC), ou simplesmente "Kinross" é uma mineradora transnacional com sede no Canadá.

[2] Ono FB, Guilherme LR, Penido ES, Carvalho GS, Hale B, Toujaguez R, Bundschuh J. Arsenic bioaccessibility in a gold mining area: a health risk assessment for children. Environ Geochem Health. 2012;34:457-65.

[3] Rezende PS, Costa LM, Windmöller CC. Arsenic Mobility in Sediments from Paracatu River Basin, MG, Brazil. Arch Environ Contam Toxicol. 2015 Feb 12. [Epub ahead of print]

[4] Savory J , Wills MR. 1984. Arsenic. In: Merian E, Editor, 1984. Metalle in der Unwelt, VCH Publ, Weinheim, pp. 319–334.

[5] Matschullat J, Borba RP, Deschamps E, Figueiredo BR, Gabrio T, Schwenk M. 2000. Human and environmental contamination in the Iron Quadrangle, Brazil. Appl Geochem 15:181-190.

[6] Dani SU. 2013. Osteoresorptive arsenic intoxication. Bone 53:541-5.

[7]  Entre as teses, documentários, matérias jornalísticas e de divulgação científica citam-se: o documentário “Ouro de Sangue” (Pervitin Filmes, 2008) de autoria dos paracatuenses Sandro Neiva e Alessandro Silveira; a reportagem “Sob o Peso do Ouro” (jornal Estado de Minas, 2008) do jornalista Bernardino Furtado; a tese “O Ouro e a Dialética Territorial em Paracatu”, do Prof. Márcio José dos Santos; a tese da Doutora Laure Terrier defendida na Universidade de Paris em 2011; as centenas de artigos publicados no www.alertaparacatu.blogspot.com; a reportagem “Der giftige Schatz von Paracatu” (“O Tesouro Venenoso de Paracatu”) do jornalista alemão Thomas Fischermann, publicada em 2014 na Alemanha, pelo jornal “Die Zeit”, o maior semanário alemão;  o artigo “Mineração dos Ossos” (2014) publicado na revista Ciência Hoje, e agora a reportagem do quadro "Proteste Já" do Programa CQC da TV BAND, exibido dia 9 de março passado, entre diversas outras.

Extração de minério em Paracatu prejudica saúde da população mineira

http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2015/03/14/interna_cidadesdf,475440/extracao-de-minerio-em-paracatu-prejudica-saude-da-populacao-mineira.shtml

Os últimos 5 anos da Kinross na bolsa de Toronto


Kinross Gold Corporation (TSE-K; NYSE-KGC) ("Kinross") 
Fonte: http://www.finanzen.net/chart/Kinross_Gold, acessado em 14.03.2015

Arsênio já está na cadeia alimentar em Paracatu

Por Sergio Ulhoa Dani, de Berna, Suíça

Um estudo realizado em Paracatu por uma equipe da UFMG indica que o arsênio liberado pela mineração de ouro a céu aberto em Paracatu já está passando para diversas espécies de plantas usadas na alimentação [1,2,3].

As autoras do estudo mediram a concentração de arsênio nas águas e sedimentos de córregos situados em torno da mina de ouro a céu aberto operada pela Kinross Gold Corporation (TSE-K; NYSE-KGC) ("Kinross") em Paracatu. Elas também mediram a concentração de arsênio em amostras de diversos vegetais usados na alimentação, adquiridos de pequenos produtores rurais da mesma região impactada pela mineração.

Em diversos pontos onde foram feitas medições, as concentrações de arsênio estavam muito acima dos padrões de qualidade estabelecidos pelas organizações  nacionais e internacionais. A concentração total de arsênio na água variou de 0,35 a 110 microgramas por litro, isto é, até 11 vezes acima dos limites legais. Nos sedimentos, a concentração total de arsênio variou de 738 a 2750 miligramas por kg, isto é, 125 a 466 vezes acima dos limites legais. As concentrações de arsênio no sedimento aumentam à medida em que diminui a distância da área da mineração.

As autoras encontraram uma correlação entre a concentração do arsênio presente na água e nos sedimentos e o arsênio presente nas amostras das diversas espécies de plantas utilizadas na alimentação em Paracatu. Os níveis de contaminação estavam abaixo daqueles encontrados nas verduras vendidas nos supermercados de Bangladesh, onde milhões de pessoas sofrem de arsenicose [4].

Segundo as autoras, as atividades da mineração constituem as fontes principais de liberação de arsênio para o ambiente. Elas informam que a drenagem ácida da mina aumenta a solubilização e dispersão do arsênio para os cursos d’água da região.

Ainda segundo as autoras, a poeira é o principal meio de transporte das emissões de arsênio para a atmosfera. Essas partículas são espalhadas pelo vento e retornam para o solo e cursos d’água por causa da deposição úmida (orvalho e chuva). Mas, no presente estudo, as autoras não analisaram o arsênio presente na poeira.


Referências e notas:

[1] Rezende PS, Costa LM, Windmöller CC. Arsenic Mobility in Sediments from Paracatu River Basin, MG, Brazil. Arch Environ Contam Toxicol. 2015 Feb 12. [Epub ahead of print]

[2] As autoras do estudo, Patricia Rezende, Letícia Costa e Cláudia Windmöller são cientistas do departamento de química da UFMG-Universidade Federal de Minas Gerais. A colheita de amostras para o estudo foi realizada pelas autoras entre os anos de 2010 e 2011. O estudo foi publicado em janeiro de 2015 na revista Archives of Environmental Contamination and Toxicology, uma revista especializada com corpo editorial e de circulação internacional.

[3] Sobre resultados preliminares deste estudo, leia também o comentário publicado em 2010: http://alertaparacatu.blogspot.ch/2010/04/estudos-fornecem-novas-provas-contra.html

[4] Em Bangladesh, a principal via de exposição ao arsênio é a via digestiva, através da ingestão de água contaminada. Em Paracatu, a via respiratória responde por importante parcela da exposição ao arsênio. A exposição total é o somatório da exposição por todas as vias.

quinta-feira, 12 de março de 2015

Repúdio ao repúdio

A Prefeitura de Paracatu divulgou uma "nota de repúdio" contra a reportagem do CQC da TV BAND exibida nesta segunda-feira, dia 09.03.2015. Um dos pontos "repudiados" foi o caso de um paciente com múltiplas lesões de pele sugestivas de neurofibromatose. Na entrevista, o paciente entrevistado associa a piora da intensidade das lesões à contaminação ambiental causada pela mineradora Kinross. O repórter da TV BAND tomou o depoimento do paciente e levou o caso ao conhecimento do Prefeito de Paracatu. O repórter não é médico nem cientista, portanto não pode ser acusado de "erro de diagnóstico" ou "sensacionalismo", como quer a Prefeitura de Paracatu na sua nota de repúdio. O papel dos médicos e cientistas é investigar se no caso retratado pela reportagem haveria a participação do arsênio na manifestação das lesões de pele sugestivas de neurofibromatose. A neurofibromatose é uma neoplasia geralmente benigna causada por uma mutação genética herdada. Sabemos que todo cancer é uma "doença genética", mas nem todo câncer é exclusivamente uma doença genética HEREDITÁRIA. Em vez de repudiar a excelente reportagem do CQC, a Prefeitura de Paracatu deveria agradecer pelo interesse e pelo alerta feito pela equipe corajosa da TV BAND. A Prefeitura deveria ter dito que tomará as providências no sentido de apoiar a realização de um estudo epidemiológico clínico-laboratorial de verdade, conduzido por médicos e cientistas com competência comprovada através de currículo e independentes da mineradora e do governo. A nota de repúdio da Prefeitura revela seu erro de percepção e falta de tato político, e reforça a tese de promiscuidade com a mineradora transnacional canadense Kinross Gold Corporation.

terça-feira, 10 de março de 2015

RETRATAÇÃO EXTRAJUDICIAL

Sr. DANIEL COELHO
da VEIRANO Advogados
Suposto Advogado da Kinross Brasil Mineração SA

Pindamonhangaba, 10 de março de 2015

Conquanto não reconheça idôneo o instrumento de mandato pois a qualidade do mandante não está demonstrada por atos constitutivos da empresa outorgante, estou atento ao parágrafo final da ''notificação'' por via postal, que diz:

"Assim, serve a presente para notificá-lo para que apresente sua retratação formal acerca do conteúdo das publicações mencionadas, sob pena de serem tomadas as medidas legais para responsabilização de V. Sa. pelos danos causados à Kinross."

Deveria desconsiderar por várias impropriedades gramaticais, sintáticas e semânticas, mas em louvor ao esforço profissional informo que:

1) não posso dar resposta formal a um documento informal;

2) não posso retratar-me quanto ao conteúdo das publicações porque não gerei o conteúdo - explico: o verbo retratar exige que o sujeito tenha conjugado o verbo tratar, ou seja, como não fiz as declarações não posso desdizer o que não disse - e nem suspeito que tenha dito porque as indicações são mais que genéricas;

3) não reconheço que a tomada de medidas legais seja algum tipo de pena;

4) não fui informado sobre os danos causados à Kinross.

Quanto às afirmações dos parágrafos anteriores da peça recebida tenho como razoável não comentar por serem impertinentes, além de tudo ser um copy/paste de outra peça, mas atenderei pedido para publicar o ''fac simile''.

Assm, respondo tão informalmente quanto informalmente notificado fui, porém publicamente porque a matéria não é coberta por sigilo.

Tão logo a questão ingresse nos meios formais V.Sa. poderá conversar diretamente com meu Advogado.

Os comentários estão abertos para réplica.

Atenciosamente

Serrano Neves

PS.: por estarem sediados no Rio de Janeiro, sugiro visualizar o link abaixo para inteirar-se do cenário operado pelo sua mandante.

https://www.youtube.com/watch?v=CR_bek8prZE&feature=youtu.be

Proteste Já

Proteste Já: má conduta de mineradora faz comunidade ser envenenada em Paracatu-MG


Publicado em 10 de mar de 2015

Proteste Já Paracatu MG CQC 09032015 HD1

https://www.youtube.com/watch?v=CR_bek8prZE&feature=youtu.be

domingo, 8 de março de 2015

Custe o Que Custar em Paracatu


A temporada 2015 do programa CQC estréia segunda-feira, dia 09.03.2015 às 22:45 horas na BAND, uma das quatro maiores emissoras de TV do Brasil [1,2].

O quadro "Proteste Já" do CQC deve apresentar o caso da mineração de ouro a céu aberto em Paracatu. A mineração é conduzida pela transnacional canadense Kinross Gold Corporation, empresa autora da grave contaminação ambiental com arsênio, ácido sulfúrico, cianeto e outras substâncias. 

A Kinross também é acusada de uma série de violações dos direitos humanos, incluindo práticas corruptas como a realização de "pagamentos facilitadores" a autoridades de governo, homicídio e genocídio.

Para a reportagem em Paracatu, o CQC trouxe um balão que sobrevoou a área da mineradora, desde a comunidade Santa Rita, passando pela represa de rejeitos tóxicos, área industrial e área da cava da mina, pousando próximo à Rodoviária de Paracatu. O balão provocou as mais desencontradas conversas na cidade. 

Alertada pela presença dos reporteres em Paracatu, a gerência da mina teria entrado imediatamente em contato com Toronto. A Kinross e seus defensores políticos então começaram a fazer de tudo para impedir a exibição do programa. 

Na entrada da mina, os repórteres do CQC foram recepcionados pelos seguranças da Kinross. 

Rafaela Xavier, uma das defensoras da população afetada pela mineração sofreu um atentado com arma de fogo na semana em que o programa estava sendo gravado. Ela teve que sair de Paracatu, e está sob a proteção do serviço de proteção à testemunha.

A equipe do CQC foi recebida pelo Prefeito de Paracatu, que não imaginava qual seria o assunto tratado. Quando o entrevistador começou a questionar sobre a contaminação por arsênio, a assessora do Prefeito aprontou um reboliço, que foi filmado pela equipe, o que enriqueceu a matéria.

A Kinross estaria estudando a possibilidade de processar a BAND, caso a reportagem seja veiculada. Estariam apavorados com a atuação dos repórteres, que teriam classificado de "malucos".

Tudo indica que a Kinross está usando de diversos meios para impedir a exibição da matéria ou neutralizar seu efeito. Provavelmemente exibirão matéria paga em outras emissoras de TV e devem continuar sua tática conhecida de comprar e publicar matérias nos jornais locais, regionais, estaduais e nacionais, para encobrir a repercussão negativa que esperam da reportagem. 

Suspeita-se que a Kinross esteja fazendo pressões de todo o tipo contra a direção da BAND. Em um site da internet sobre a estréia da temporada de 2015 do CQC, o autor informa que "o alto comando da Bandeirantes, pelo sim pelo não, se mostra um tanto cauteloso. Prova disso é que o primeiro programa não será ao vivo, mas gravado horas antes, para possíveis correções de rumo."

Referências/links:

[1] http://pt.wikipedia.org/wiki/Custe_o_Que_Custar

[2] http://www.band.uol.com.br/tv/noticias/100000738540/Gente-nova-na-bancada.html

[3] http://televisao.uol.com.br/colunas/flavio-ricco/2015/03/04/estreia-da-nova-temporada-do-cqc-sera-gravada.htm

quarta-feira, 4 de março de 2015

Something strange

Paracatu-MG, Brazil, March 3, 2015 – Something strange is happening in Paracatu, a 80000 inhabitant town in Brazil. The incidence of cancer has increased substantially since 1987, when Canadian Kinross Gold Corporation started Brazilian’s largest open cast gold mine in town. Scientists suspect that arsenic released from the hard rocks during the mining operations is a major cause of cancer in Paracatu, which Kinross denies. There is no oncology department in Paracatu, and the poor people cannot afford cancer treatment in private clinics in larger cities. Rafaela Xavier is a young attorney who serves as a bridge between these patients and a charity cancer hospital located in Barretos, some 500 km south from Paracatu. Since the beginning of her volunteer work some three years ago Rafaela has been increasingly black mailed, and her 5 year old daughter has been bullied. Recently, her just married husband was fired from his position at Kinross. Last week, somebody broke into Rafaela´s house and made a gun shooting as a ‘warning message’ against her participation in the segment "Proteste Já" (Protest Now) of the Brazilian CQC television programme aired by Band TV. Rafaela is under a state-run witness protection programme. She told about her lot in a recent interview recorded in an undisclosed place where she and her daughter moved to.

https://www.youtube.com/watch?feature=player_detailpage&v=NmlHutr25gM

Paracatu-MG, Brasil, 3 de março de 2015 – algo estranho está acontecendo em Paracatu, uma cidade de 80000 habitantes no Brasil. A incidência de câncer aumentou substancialmente na cidade desde 1987, quando a canadense Kinross Gold Corporation começou a maior mina de ouro a céu aberto do Brasil. Os cientistas suspeitam que o arsênio liberado da rocha dura durante as operações de mineração é das principais causas de câncer em Paracatu, o que a Kinross nega. Não há nenhum departamento de oncologia em Paracatu, e o povo pobre não pode pagar tratamento de câncer em clínicas privadas nas grandes cidades. Rafaela Xavier é uma jovem advogada que serve como uma ponte entre estes pacientes e um hospital filantrópico de câncer localizado em Barretos, cerca de 500 km ao sul de Paracatu. Desde o início do seu trabalho voluntário há cerca de três anos, Rafaela tem recebido cada vez mais ameaças anônimas, e sua filha de 5 anos de idade também tem sido intimidada. Recentemente, o marido recém casado foi demitido de seu cargo na Kinross. Semana passada, alguém invadiu a casa da Rafaela e fez disparos com uma arma de fogo como uma 'mensagem de aviso' contra sua participação no segmento "Proteste Já" do programa CQC da televisão brasileira que vai ao ar pela TV Band. Rafaela está sob um programa estatal de proteção à testemunha. Ela contou sua história em uma recente entrevista gravada em um lugar secreto fora de Paracatu, para onde ela e sua filha mudaram.