sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

‘Reluzente e imperecível’ é o genocídio do ouro

LD Dr.med. D.Sc. Sergio U. Dani

Resumo: Genocídio é um crime recorrente na história. A motivação comum entre os genocidas de todos os tempos é tomar posse dos territórios e riquezas das vítimas que encontram pelo caminho. Para o genocida, enriquecimento e poder são motivações bastante fortes para justificar as matanças. O biocídio ou matança dos sistemas de vida da terra, e o geocídio ou devastação da própria terra constitutem formas amplificadas de genocídio que se tornaram comuns no mundo globalizado. Enquanto o genocídio geralmente compromete a sobrevivência de grupos étnicos ou culturais, o geocídio compromete a sobrevivência da humanidade como um todo. Talvez o maior genocídio da história esteja sendo promovido pela mineração de ouro em larga escala. Para obter um punhado de ouro, poderosas mineradoras transnacionais aniquilam comunidades tradicionais, despejam milhões de toneladas de pó, lama e gases venenosos no ambiente, sufocam nascentes de água e seus vales, poluem rios e mares, envenenam e matam plantas, animais e pessoas. O rastro da destruição e seus venenos permanecem ativos por séculos e milênios. O geocida é um genocida que cospe no prato em que comeu.


Figura 1 │ Anúncio da propaganda sarcástica da empresa Degussa no jornal alemão ‘Die Zeit’ com o intuito de estimular a compra de ouro. No cartoon, três feiticeiros preparam uma mistura diabólica de ingredientes incluindo um osso semelhante ao fêmur humano. Ao fundo, um sujeito engravatado explica o que se passa: ‘Ah, o senhor sabe, o valor dos depósitos em ouro é superestimado. Nós temos aqui nossos métodos especiais para um perfeito mix de investimento’. Fonte: Die Zeit, N. 48, 21.Nov.2013, Seite 26/Wirtschaft.

"We find ourselves ethically destitute just when, for the first time, we are faced with ultimacy, the irreversible closing down of the earth's functioning in its major life systems. Our ethical traditions know how to deal with suicide, homicide and even genocide, but these traditions collapse entirely when confronted with biocide, the killing of the life systems of the earth, and geocide, the devastation of the earth itself." –  Thomas Berry

Para obter cada grama de ouro da mina a céu aberto localizada no perímetro urbano de Paracatu, Brasil, a mineradora canadense Kinross Gold Corporation (TSE-K; NYSE-KGC) explode duas toneladas e meia de rocha dura, destrói e polui nascentes de água potável e territórios de povos tradicionais reconhecidos pela Constituição Federal do Brasil, mata membros dessa comunidade a tiros de arma de fogo e envenena milhares com a poeira que lança sobre a cidade e a região.

Em cada tonelada de rocha da mina de ouro da Kinross em Paracatu existe um kilo de arsênio inorgânico, um veneno perigoso quando liberado da rocha para o ambiente. Basta um grama de arsênio inorgânico para matar ou adoecer gravemente sete pessoas adultas. O peso virtual ou pegada ecológica de cada grama de ouro que a Kinross retira de Paracatu equivale a 2,5 toneladas de rocha e 2,5 kg de arsênio inorgânico, uma dose letal para 17.500 seres humanos.

Até o ano 2010, a Kinross já havia liberado cerca de 300 mil toneladas de arsênio inorgânico das rochas da mina de Paracatu. Ao todo, a mineradora deverá liberar 1 milhão de toneladas desse veneno nos próximos 30 anos de mineração. Essa quantidade de arsênio equivale a uma dose suficiente para matar 7 trilhões de seres humanos. Os defensores da mineradora argumentam que apenas uma parte ‘ínfima’ desse veneno está bioacessível: cerca de 4%, equivalente a uma dose letal para ‘apenas’ 280 bilhões de pessoas.

Blindada contra os protestos das suas vítimas e apoiada numa rede de corrupção, a mineradora continua sua obra macabra. A rocha explodida é carregada por gigantescos caminhões fabricados para a Kinross pela empresa norte-americana Caterpillar/Bucyrus até um britador, onde a rocha é triturada. Dali a brita segue por uma esteira rolante até um gigantesco moinho construído para a Kinross pela alemã Siemens. No moinho, a rocha é pulverizada. O pó da rocha é misturado com água contendo diversas substâncias tóxicas e corrosivas, entre elas o cianeto de sódio fornecido para a Kinross pela norte-americana DuPont. A hidrometalurgia produz lingotes de uma mistura metálica contendo ouro, prata, cobre e ferro. O ouro é ‘purificado’ a partir desses lingotes por empresas como Degussa/Umicore. Finalmente, o ouro é vendido pelo mundo afora, transformado em lingotes, barras, moedas e jóias ‘reluzentes e imperecíveis’. Em Paracatu, fica o lixo da mineração a distilar um chorume macabro, a água podre do cadáver da rocha, o suco hediondo do lixo da mineração.

Uma aliança, uma moeda ou uma barra de ouro reluzente são leves de carregar. Mas seu peso de destruição, poluição, doença e morte é insustentável. A mineração hedionda da Kinross em Paracatu um dia termina, mas o seu chorume macabro permanece por séculos e milênios, espalhando-se lentamente para o resto do mundo.

Nota: 
No Brasil a Lei no. 2.889, de 1 de outubro de 1956 define o crime de genocídio e dá suas penas. É considerado crime de genocídio: Art. 1º Quem, com a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso, como tal: a) matar membros do grupo; b) causar lesão grave à integridade física ou mental de membros do grupo; c) submeter intencionalmente o grupo a condições de existência capazes de ocasionar-lhe a destruição física total ou parcial; d) adotar medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo; e) efetuar a transferência forçada de crianças do grupo para outro grupo. A lei não prevê a existência de genocídio culposo mas a imprudência, imperícia ou negligência nos cuidados exigidos para evitar lesão à saúde e dano ao meio ambiente podem causar o mesmo resultado previsto na lei para o genocídio doloso (com intenção de causar lesão). O genocídio culposo não gera processo criminal, mas gera a obrigação de indenizar.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

A verdade sobre o arsênio em Paracatu

LD Dr.med. D.Sc. Sergio Ulhoa Dani, de Göttingen, Alemanha.

Os níveis de arsênio na cidade de Paracatu eram normais antes do início da mineração de ouro a céu aberto no Morro do Ouro, localizado dentro do perímetro urbano da cidade.

A operadora da mina, a mineradora Kinross Gold Corporation aumentou os níveis de arsênio nas águas superficiais na bacia do Córrego Rico e Santa Rita, em mais de cem vezes (de 0-2 ppb até 180 ppb).

Os níveis de arsênio no solo e no ar de Paracatu estão 30 vezes até 400 vezes acima dos níveis capazes de causar doenças graves como mutações genéticas, abortos, câncer e doenças mentais nas pessoas crônicamente expostas.

Um estudo científico financiado pela Kinross Gold Corporation e publicado em 2011 comprova que o arsênio que essa mineradora libera em Paracatu está bioacessível, isso significa que a Kinross sabe que você e seus descendentes estão sendo envenenados por ela.

Em outras palavras, tudo indica que temos um genocídio em andamento em Paracatu.

Os cientistas estão fazendo seu trabalho de esclarecimento. Cuide-se. Procure os jornalistas corajosos, os políticos honestos, os promotores de boa vontade, os juízes íntegros, os médicos e os advogados competentes. Defenda-se dos genocidas.

Referências:

RPM-Kinross Gold Corporation, report provided on page 604 of the civil action moved against Kinross by the Acangau Foundation, Paracatu, Brazil.

Matschullat J, Borba RP, Deschamps E, Figueiredo BR, Gabrio T, Schwenk M. 2000. Human and environmental contamination in the Iron Quadrangle, Brazil. Appl Geochem 15:181-190.


RPM-Kinross Gold Corporation, report provided on page 1338 of the civil action moved against Kinross by the Acangau Foundation, Paracatu, Brazil.


Estimate calculation: 50 micrograms/m3 (i.e., annual average of particulate material, as reported by Kinross Gold Corporation from measurements taken in 5 Raivol equipments in different sites in Paracatu town) x arsenic concentration in the dust (i.e., 1-1.5 ng/microgram). This information was provided in the Civil Action moved against Kinross by the Acangau Foundation, Paracatu, Brazil. Kinross’ EIA-RIMA prepared by Brandt Meio Ambiente, p. 884.


Planer-Friedrich B, Ball JW, Matschullat J, Nordstrom DK. 2006. Volatile arsenic and other volatile metal(oids) at Yellowstone National Park. Geochimica et Cosmochimica Acta 70(10):2480-2491.


Jakob R, Roth A, Hass K, Krupp EM, Raab A, Smichowski P, Gómez D, Feldmann J. 2010. Atmospheric stability of arsines and the determination of their oxidative products in atmospheric aerosols (PM10): evidence of the widespread phenomena of biovolatilization of arsenic. J Environ Monit 12 (2):409-16 .


NIOSH. CG17500. Arsenic chloride. In: Registry of toxic effects of chemical substances (RTECS) 1976 ed. Cincinnati, OH: U.S. Department of Health, Education, and Welfare, Public Health Service, Center for Disease Control, National Institute for Occupational Safety and Health, DHEW (NIOSH) 1976; Publication No. 76-191, p.126.


Rieuwerts JS, Searle P, Buck R. Bioaccessible arsenic in the home environment in southwest England. Sci Total Environ. 2006 Dec 1;371(1-3):89-98. Epub 2006 Oct 4.


Smith E, Weber J, Juhasz AL. Arsenic distribution and bioaccessibility across particle fractions in historically contaminated soils. Environ Geochem Health 2009 Apr;31 Suppl 1:85-92. Epub 2009 Feb 18.


Girouard E, Zagury GJ. Arsenic bioaccessibility in CCA-contaminated soils: influence of soil properties, arsenic fractionation, and particle-size fraction. Sci Total Environ 2009 Apr 1;407(8):2576-85. Epub 2009 Feb 10.


Meunier L, Walker SR, Wragg J, Parsons MG, Koch I, Jamieson HE, Reimer KJ. Effects of soil composition and mineralogy on the bioaccessibility of arsenic from tailings and soil in gold mine districts of Nova Scotia. Environ Sci Technol 2010 Apr 1;44(7):2667-74.


Smith AH, Ercumen A, Yuan Y, Steinmaus CM. Increased lung cancer risks are similar whether arsenic is ingested or inhaled. J Exposure Sci Environ Epidemiol 2009,19:343-348.


Yoshikawa M, Aoki K, Ebine N, Kusunoki M, Okamoto A. 2008. Correlation between the arsenic concentrations in the air and the SMR of lung cancer. Environ Health Prev Med. 13(4):207-18.


Rio Paracatu Mineração SA. Relatório de Desenvolvimento Sustentável de 2003, p. 14.


Dani SU. 2010. Arsênio em Paracatu atinge níveis de genocídio. EPUB July 7, 2007. http://alertaparacatu.blogspot.com/2010/07/arsenio-em-paracatu-atinge-niveis-de.html


Cetesb 2005. Relatório de estabelecimento de valores orientadores para solos e águas subterrâneas do Estado de São Paulo. CETESB – Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental. Decisão de Diretoria Nº 195-2005- E, de 23 de novembro de 2005. Dispõe sobre a aprovação dos Valores Orientadores para Solos e Águas Subterrâneas no Estado de São Paulo – 2005, em substituição aos Valores Orientadores de 2001, e dá outras providências. Diário Oficial do Estado – DOE, 1º de Dezembro de 2005. Accessed at http://www.cetesb.sp.gov.br/Solo/relatorios/tabela_valores_2005.pdf.


Dani SU. 2010. Arsenic for the fool: an exponential connection. Science of the Total Environment  408:1842-6.


http://alertaparacatu.blogspot.com/2011/01/cresce-o-numero-de-casos-de-cancer-em.html


Tapio S, Grosche B. 2006. Arsenic in the aetiology of cancer. Mutation Research 612:215-246.


Enríquez MARS. Maldição ou dádiva? Os dilemas do desenvolvimento sustentável a partir de uma base mineira. Tese de Doutorado, Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília. 2007, 449 p.


http://alertaparacatu.blogspot.com/2011/01/abortos-espontaneos-em-paracatu.html


Hassold TJ. A cytogenetic study of repeated spontaneous abortions. Am J Hum Genet 1980 Sep;32(5):723-30.


Burri AV, Cherkas L, Spector TD. Exploring genetic and environmental influences on miscarriage rates: a twin study. Twin Res Hum Genet. 2010 Apr. 13(2):201-6.


Milton AH, Smith W, Rahman B, Hasan Z, Kulsum U, Dear K, Rakibuddin M, Ali A. Chronic arsenic exposure and adverse pregnancy outcomes in Bangladesh. Epidemiology 2005 Jan;16(1):82-6.


Rahman A, Persson LA, Nermell B, El Arifeen S, Ekstrom EC, Smith AH, Vahter M. Arsenic exposure and risk of spontaneous abortion, stillbirth, and infant mortality. Epidemiology 2010 Nov;21(6):797-804.


Bloom MS, Fitzgerald EF, Kim K, Neamtiu I, Gurzau ES. Spontaneous pregnancy loss in humans and exposure to arsenic in drinking water. Int J Hyg Environ Health. 2010 Oct 1. [Epub ahead of print]


Ferreira IN. 2008. Busca ativa de hanseníase na população escolar e distribuição espacial da endemia no município de Paracatu. – MG (2004 a 2006). Tese de doutorado, Universidade de Brasília – UnB, Faculdade de Ciências da Saúde. Also available in: Ferreira IN, Evangelista MSN, Alvarez RRA. 2007. Distribuição espacial da hanseníase na população escolar em Paracatu – Minas Gerais, realizada por meio da busca ativa (2004 a 2006)/ Spatial distribution of leprosy among schoolchildren in Paracatu, State of Minas Gerais, through active case finding (2004 to 2006). Revista Brasileira de Epidemiologia, vol.10, no. 4, São Paulo, Dec. 2007: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1415-790X2007000400014&script=sci_arttext.


Ono FB, Guilherme LR, Penido ES, Carvalho GS, Hale B, Toujaguez R, Bundschuh J. Arsenic bioaccessibility in a gold mining area: a health risk assessment for children. Environ Geochem Health. 2012 Aug;34(4):457-65. Epub 2011 Dec 18. doi: 10.1007/s10653-011-9444-9. Leia um comentário sobre esse estudo: Arsênio liberado pela Kinross em Paracatu já está bioaccessível, revela estudo. http://www.alertaparacatu.blogspot.de/2012/05/arsenio-liberado-pela-kinross-em.html


Agency for Toxic Substances and Disease Registry (ATSDR). 2009. Minimal Risk Levels (MRLs). Accessed September 25, 2010 from http://atsdr.cdc.gov/cercla/07list.html.


sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Trabalho de formiguinha

Sergio U. Dani, de Göttingen, Alemanha.


Cyatta abscondita, a formiguinha discreta. Foto: Sosa-Calvo et al, 2013.  

Cyatta abscondita, uma formiguinha agricultora muito discreta foi redescoberta na Reserva do Acangau. O ‘trabalho de formiguinha’ foi realizado por uma equipe de cientistas brasileiros e norte-americanos, entre os quais o Professor Heraldo Vasconcelos, da Universidade Federal de Uberlândia, e publicado no último número da revista PloS ONE.

O nome escolhido para o gênero ‘Cyatta’ é um neologismo construído pela expressão tupi ‘Cy’, que significa ‘irmã’, e ‘atta’, uma referência ao parentesco das Cyatta com as saúvas mais conhecidas do gênero Atta. O nome da espécie, ‘abscondita’ refere-se à natureza extremamente discreta dessa espécie. Após ter sido reconhecida, em 2003, a partir de um número reduzido de raros exemplares, a espécie só foi redescoberta depois de múltiplas tentativas frustradas de localizá-la no campo. Essa formiguinha de menos de 3 milímetros de comprimento é difícil de ser apanhada em armadilhas geralmente usadas para capturar formigas.


Formigas são organismos sociais muito antigos no esquema de evolução das espécies pela seleção natural. Através da análise do DNA, os cientistas calcularam que o gênero Cyatta existe há surpreendentes 26 milhões de anos. Quais seriam as estratégias secretas de sua sobrevivência? 


As diminutas Cyatta constituem colônias de 20 a 26 operárias. Elas adotam uma estratégia também adotada por algumas parentes da América do Norte, Caribe e América do Sul: cultivar fungos dos quais elas se alimentam. Os jardins de fungos são cultivados suspensos no teto de pequenas câmaras subterrâneas escavadas a uma profundidade de até 2 metros. Para um animalzinho tão discreto, trata-se de um desempenho extraordinário. O segredo do sucesso? Prevenção, trabalho de equipe e discrição.



Referência:

Sosa-Calvo J, Schultz TR, Brandão CRF, Klingenberg C, Feitosa RM, Rabeling C, Bacci Jr. M, Lopes CT, Vasconcelos HL (2013) Cyatta abscondita: taxonomy, evolution, and natural history of a new fungus-farming ant genus from Brazil. PLoS ONE 8(11): e80498. doi:10.1371/journal.pone.0080498

terça-feira, 29 de outubro de 2013

MPF/MG questiona Kinross sobre impactos resultantes da produção de ouro em Paracatu

Um dos objetivos é saber se a incidência de câncer no município estaria de fato relacionada com a liberação de substâncias tóxicas durante o processo de mineração.


O Ministério Público Federal em Minas Gerais (MPF/MG) encaminhou à Kinross Brasil Mineração SA diversos questionamentos acerca do processo de extração de ouro e prata em seu complexo minerário instalado no município de Paracatu e das consequências para o meio ambiente e para a saúde da população da cidade. No total, mais de 37 quesitos – todos eles desdobrados em vários questionamentos – foram encaminhados à mineradora.





terça-feira, 22 de outubro de 2013

*O INFERNO DÁ LUCRO*


*O INFERNO DÁ LUCRO*

A Mineração protagoniza uma das mais violentas devastações da nossa história.

A atividade é um dos carros chefes na política econômica do Brasil. Não é novidade para os brasileiros: onde há excesso de lucro, há sangue.
Histórias chocantes de devastação do meio ambiente e desrespeito ao ser humano ficam escondidas atrás das montanhas de dinheiro.

A tendência é que o quadro, já instável, sangre mais. Muito mais. O Governo Brasileiro se apressa para aprovar o Novo Marco da Mineração. O objetivo é
triplicar o potencial minerador até o ano de 2030. Essas mudanças provocam
câmbios diretos na vida de milhares de pessoas que moram, trabalham ou
convivem próximo a grandes mineradoras: indígenas, quilombolas, comunidades
tradicionais, agricultores familiares e moradores de pequenas vilas em
região de extração.

Quais são de fato os danos ambientais? Qual o ganho econômico para uma
cidade onde se instala uma grande mineradora? Qual a noção de progresso que
está por trás de uma atividade econômica ambientalmente tão cara?

A reportagem especial do Ninja visitou nas últimas semanas os estados
responsáveis pela maior exportação de minério no país: Minas Gerais, Pará e
Maranhão, conversando nos rincões de nosso país com quem sofre diretamente
com a Mineração.

Até quando fecharemos os olhos para essa situação?

 Link do vídeo:

http://www.youtube.com/watch?v=2JBMPuOGTVI

domingo, 6 de outubro de 2013

MORRO DO OURO E SEU LAMENTO

MORRO DO OURO E SEU LAMENTO

Um poema de Elizabeth Gonçalves (*) / Publicação exclusiva para o site do Arquivo Público de Paracatu-MG

Morro do Ouro
Bilionário,
Monte do precioso metal
Que de tão rico… Veio a sua pior pobreza…
A cobiça sobre sua sorte!

Pobre morro do ouro!
Cada grão de terra jorrada
Cada pedra rolada
Soluça, lamenta…
Um lamento lento…
Definha dia após dia
Arrasta-se, geme e chora.
Pede socorro!
A espera de alguém pra te agasalhar!
A espera de alguém pra te defender!

 Seu belo cenário…
Verde era seu vestuário…
Arquimilionário,
Arrasta-se em tons de cinza…
Paisagem esfolada!
 E Historia invadida!
Tristeza no olhar
E lágrimas nas gargantas…
Confinados…
 Todos assistem sua agonia
Inertes, passivos…
Testemunham seu lamento.

Pobre morro do Ouro!
Geme dia a dia!
Era abrigo bem aventurado!
Hoje ninguém pra abrigar
Que de tão rico…
 Veio a sua pior pobreza…
A cobiça sobre sua sorte!

Pobre morro do ouro!
Pressentindo a sua morte
Desamparado…
Lamenta e chora!

(*) Elizabeth Gonçalves Santos F. Barbosa é bacharelada em Administração e é funcionária pública municipal do Serviço de Alistamento Militar. É membro honorífico do Conselho Municipal de Patrimônio Histórico e Artístico de Paracatu (COMPHAP). Foi coordenadora do programa de Educação Patrimonial do Município de Paracatu-MG.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Intoxicação crônica da população de Paracatu

Estudos em andamento sobre a intoxicação crônica da população de Paracatu pelo arsênio lançado ao ambiente pela mineração de ouro.

2009 – Atual
Título: Estudo clínico-laboratorial, epidemiológico e jurídico da intoxicação crônica por arsênio natural e antropogênico em Paracatu, BRASIL
Situação: Em andamento; Natureza: Pesquisa.
Integrantes: Sergio Ulhoa Dani - Coordenador (srgdani@gmail.com) / Laure Terrier - Integrante / Paulo Maurício Serrano Neves - Integrante / Márcio José dos Santos – Integrante / Alessandro Silveira de Carvalho - Integrante.
Financiador(es): Fundação Acangau, doadores e voluntários no Brasil, Alemanha e França.
Alunos envolvidos: Doutorado: (2).
Observações: Notícias e relatórios sobre esse estudo e estudos afins são publicadas regularmente, nas línguas portuguesa e inglesa nos sites: www.alertaparacatu.blogspot.com e www.sosarsenic.blogspot.com.
Publicações selecionadas:
1. Fundação Acangau. 2009. AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE PREVENÇÃO E PRECAUÇÃO POR DANO AMBIENTAL E À SAÚDE PÚBLICA DECORRENTE DE CARGA CONTÍNUA SOBRE O MEIO AMBIENTE COM PEDIDO DE CAUTELA LIMINAR. Acessível em http://anexo.novojornal.com/48280_2.pdf
2. Dani SU. 2010. Gold, coal and oil. Medical Hypotheses 74:534-41.
3. Dani SU. 2010. Arsenic for the fool: an exponential connection. Science of the Total Environment  408:1842-6.
4. Kumtabtim U, Matusch A, Dani SU, Siripinyanond A, Becker JS. 2011. Biomonitoring of arsenic, toxic and essential metals in single hair. The International Journal of Mass Spectrometry 307:185-191.
5. Terrier L. La criminalité environnementale ou l’impossible jouissance des droits de l’homme: le cas de l’exploitation industrielle et commerciale des ressources aurifères et diamantifères en Amérique latine. Thèse de doctorat (spécialité droits de l’homme-environnement), Université de Paris-Ouest Nanterre La Défense, France, 2011.
6. Serrano Neves PM e Dani SU. Uma solução para o genocídio de Paracatu e Réplica à contestação da Kinross ré, apresentada pela Fundação autora. Fundação Acangau/Instituto Serrano Neves, Janeiro de 2011. Acessível em: http://www.serrano.neves.nom.br/Replica_ACP_Jan_2010.pdf
7. Dani SU. 2011. The arsenic for phosphorus swap is accidental, rather than a facultative one, and the question whether arsenic is nonessential or toxic is quantitative, not a qualitative one. Science of the Total Environment 409:4889–4890.
8. Santos MJ. O ouro e a dialética territorial em Paracatu: opulência e resistência. Dissertação de Mestrado em Planejamento e Gestão Ambiental, Universidade Católica de Brasília, Brasil, 2012. Disponível para download gratuito em: http://www.editoraliberliber.net/nloja/produto/O-Ouro-e-a-Dial%E9tica-Territorial-em-Paracatu.html
9. Dani SU. Osteoresorptive arsenic intoxication. Bone 2013;53:541-5.


2010 - Atual
Título: AVALIAÇÃO DA CONTAMINAÇÃO AMBIENTAL POR ARSENIO E ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO DA EXPOSIÇÃO AMBIENTAL ASSOCIADA EM POPULAÇÃO HUMANA DE PARACATU-MG
Situação: Em andamento; Natureza: Pesquisa.
Integrantes: Zuleica Carmen Castilhos - Coordenador (zcastilhos@cetem.gov.br) / Edison Dausacker Bidone - Integrante / Marcelo O Lima - Integrante / Sambasiva Rao Patchineelam - Integrante / Sandra de Souza Hacon - Integrante / Iracina de Jesus – Integrante / Frédéric Mertens – Integrante / Eduardo Mello de Capitani – Integrante.
Financiador(es): Ministério da Saúde, Prefeitura de Paracatu
Alunos envolvidos: Doutorado: (3).
Observações: O objetivo deste estudo é realizar uma avaliação da contaminação ambiental por arsênio e um estudo epidemiológico da exposição ambiental associada em populações humanas de Paracatu-MG. Amostras de sangue e urina processadas no Instituto Evandro Chagas em Belém, PA. Estudo contratado pela Prefeitura de Paracatu e coordenado pelo Centro de Tecnologia Mineral (CETEM-MCTI).
Publicações selecionadas:
1. Silva LN, Castilhos ZC, Silva LID. Validação do método de determinação de arsênio em material particulado atmosférico de Paracatu (MG) em filtros de fibra de vidro. In: JORNADA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA, 20., 2012, Rio de Janeiro. Poster. Rio de Janeiro: CETEM, 2012.


2011
Título: BIOACCESSIBILIDADE DO ARSÊNIO EM UMA ÁREA DE MINERAÇÃO DE OURO: UMA AVALIAÇÃO DE RISCO PARA CRIANÇAS.
Situação: Concluído; Natureza: Pesquisa.
Integrantes: Ono FB, Guilherme LR, Penido ES, Carvalho GS, Hale B, Toujaguez R, Bundschuh J.
Financiador(es): Kinross Gold Corporation/Kinross Brasil – Auxílio financeiro.
Alunos envolvidos: não informado.
Publicação:
Ono FB, Guilherme LR, Penido ES, Carvalho GS, Hale B, Toujaguez R, Bundschuh J. 2012. Arsenic bioaccessibility in a gold mining area: a health risk assessment for children. Environmental and Geochemical Health 34(4):457-65.
Leia comentário sobre este estudo em:
http://alertaparacatu.blogspot.de/2012/05/arsenio-liberado-pela-kinross-em.html


2011 - Atual
Título: Avaliação do Impacto Ambiental e à Saúde Humana da Ocorrência de Arsênio na Região da Mina Morro do Ouro, Paracatu, Brasil. Fases 1 e 2.
Situação: Em andamento; Natureza: Pesquisa.
Integrantes: Virginia Sampaio Teixeira Ciminelli - Coordenador / Cláudia Lima Caldeira - Integrante / Graziele Duarte - Integrante / Jaime Wilson Vargas de Mello - Integrante / Massimo Gasparon - Integrante / Jack Ng - Integrante.
Financiador(es): Kinross Gold Corporation/Kinross Brasil – Auxílio financeiro.
Alunos envolvidos: não informado.
Publicações selecionadas: não informado.


quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Protesto contra mina de ouro revela descontentamento maior

Protesto contra mina de ouro revela descontentamento maior
Inter Press Service - Reportagens
18/9/2013 - 09h57
por Claudia Ciobanu, da IPS

Protesto contra mina de ouro revela descontentamento maior
Eugen David, ex-mineiro que virou agricultor em Rosia Montana, fala aos manifestantes na Praça da Universidade de Bucareste. Foto: Claudia Ciobanu/IPS

domingo, 25 de agosto de 2013

ESPECIAL ALERTA PARACATU – 25 DE AGOSTO DE 2013


Amor à Paracatu: pare o maior envenenamento em massa do Brasil



Cresce anormalmente o número de casos de câncer em Paracatu, especialmente entre a população mais  jovem. Para médicos e cientistas, a causa do problema é o arsênio liberado pela mineração de ouro a céu aberto na cidade. Os custos estimados com diagnóstico, tratamento e indenização das vítimas alcançam bilhões de dólares. Pedimos aos nossos Promotores Públicos que desengavetem a Ação Civil Pública de Prevenção e Precaução, e ao Prefeito da cidade de Paracatu e seus auxiliares que tomem as medidas de proteção às milhares de vidas humanas de Paracatu.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

População de Mariana vota pela não reativação da Mina del Rey


População de Mariana vota pela não reativação da Mina del Rey

Dia 18/05/13 aconteceu a V Conferência Municipal da cidade de Mariana no Centro de Convenções, com o tema "Quem muda a cidade somos nós: reforma urbana já". A Conferência, de acordo com o site da Prefeitura da cidade, "tem como objetivo identificar os problemas enfrentados pelo município no crescimento urbano, e elaborar propostas para a diminuição da desigualdade social e o desenvolvimento funcional, sem degradar a natureza".

terça-feira, 7 de maio de 2013

Estudo da USP detecta concentrações expressivas de arsênio em arroz


Estudo da USP detecta concentrações expressivas de arsênio em arroz

Do UOL, em São Paulo 06/05/201319h26

O arroz, um dos principais grãos da dieta do brasileiro, se não submetido a um controle de qualidade eficaz, pode apresentar uma concentração de variações da substância arsênio acima do ideal. O alerta vem de uma pesquisa realizada na Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP. "Tal concentração elevada pode contribuir para o desenvolvimento de doenças crônicas, como o câncer", observa o farmacêutico-bioquímico Bruno Lemos Batista, autor do estudo.






quinta-feira, 11 de abril de 2013

PARACATU TAMBÉM TEM JUSTIÇA FEDERAL

MPF/MG vai acompanhar a situação das barragens de rejeitos de minérios na Bacia do Rio Paraíba do Sul

PARACATU TAMBÉM TEM JUSTIÇA FEDERAL

Objetivo é acompanhar a situação das barragens de rejeitos de minérios nos municípios mineiros de Miraí, Cataguases e Itamarati de Minas

O Ministério Público Federal em Manhuaçu (MG) instaurou inquérito civil público para apurar e acompanhar as medidas preventivas contra dano ambiental na Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul, que banha os estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro.

VER MAIS EM


segunda-feira, 8 de abril de 2013

No Rio de Janeiro, Ministério Público está do lado da população ofendida por empresa poluidora


No Rio de Janeiro, Ministério Público está do lado da população ofendida por empresa poluidora

Depois da ação contra BASF e a Shell em São Paulo, temos agora mais um exemplo de ação para corrigir a macaquice de uma outra empresa, a CSN-Companhia Siderúrgica Nacional no Rio de Janeiro.

Trata-se da contaminação de uma área residencial com ascarel, um composto de bifenila policlorada e outras substancias tóxicas. A CSN deve arcar com a mudança de 2000 pessoas para um local seguro e descontaminar a área, inclusive o lençol freático.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Exame da Proteste detecta arsênio em quantidade acima da lei em peixes frescos vendidos em SP


Exame da Proteste detecta arsênio em quantidade acima da lei em peixes frescos vendidos em SP
Elaine Patricia Cruz - Agência Brasil27.02.2013 - 19h40 | Atualizado em 27.02.2013 - 20h00


Campanha incentiva o consumo de peixe no país















(Foto: bluguia_pablo/ Creative Commons)














São Paulo – Análises feitas pela Proteste Associação de Consumidores encontraram arsênio em peixes frescos vendidos em São Paulo. Segundo a associação, 72,5% das amostras de peixes apresentavam a substância em quantidade superior ao limite estabelecido por lei. A preocupação da Proteste é que a presença do metal em alimentos pode ser relacionada a problemas renais, hepáticos e no sistema nervoso.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Envenamento lento pelo ‘pó da herança’ descoberto em Heidelberg


Envenamento lento pelo ‘pó da herança’ descoberto em Heidelberg

O arsênio, arma de assassinato predileta dos herdeiros impacientes, também é causa de doenças que tormentam e matam milhões de pessoas em todo o mundo.

Estudo realizado na Universidade de Heidelberg, Alemanha revela um mecanismo até então desconhecido da intoxicação crônica por este veneno.

Como as propriedades químicas do arsênio se assemelham às do fósforo, pode ocorrer a substituição do fósforo pelo arsênio. O arsênio presente no alimento, na água e no ar é absorvido pelo corpo e se acumula lentamente nos ossos. A reabsorção óssea pode elevar a relação arsênio:fósforo nos fluidos corporais.

‘A deficiência de vitamina D e estados fisiológicos como a gravidez e a menopausa aceleram a reabsorção óssea, que libera o arsênio acumulado ao longo dos anos no esqueleto’, explica o médico e cientista Sergio Ulhoa Dani, autor do estudo publicado esta semana pela revista ‘Bone’.

No metabolismo celular, a troca do fósforo pelo arsênio desencadeia os chamados ‘ciclos fúteis’ que podem causar doenças crônicas como certas doenças de pele, anemia, doenças da tireóide, hipertensão, infarto do miocárdio, diabetes mellitus e diversos tipos de câncer.

O tratamento da reabsorção óssea com vitamina D e bisfosfonato teve um efeito dose-dependente de redução da quantidade de arsênio liberado do esqueleto, consequentemente melhorando os sinais e sintomas da intoxicação pelo arsênio, conforme mostrado no estudo.

Como a deficiência de vitamina D atingiu níveis de epidemia global, bem como a poluição ambiental pelo arsênio liberado por atividades como mineração de ouro e carvão mineral também aumentou, os cientistas acreditam que a intoxicação osteoresorptiva por arsênio seja uma causa comum das doenças que mais matam no mundo.

Na Universidade de Tübingen, um grupo de neurocientistas e geneticistas pretende investigar a associação entre arsênio e doença de Alzheimer.

Ref.: Dani SU, Osteoresorptive arsenic intoxication, Bone (2013), 10.1016/j.bone.2013.01.017