sábado, 14 de março de 2015

Arsênio já está na cadeia alimentar em Paracatu

Por Sergio Ulhoa Dani, de Berna, Suíça

Um estudo realizado em Paracatu por uma equipe da UFMG indica que o arsênio liberado pela mineração de ouro a céu aberto em Paracatu já está passando para diversas espécies de plantas usadas na alimentação [1,2,3].

As autoras do estudo mediram a concentração de arsênio nas águas e sedimentos de córregos situados em torno da mina de ouro a céu aberto operada pela Kinross Gold Corporation (TSE-K; NYSE-KGC) ("Kinross") em Paracatu. Elas também mediram a concentração de arsênio em amostras de diversos vegetais usados na alimentação, adquiridos de pequenos produtores rurais da mesma região impactada pela mineração.

Em diversos pontos onde foram feitas medições, as concentrações de arsênio estavam muito acima dos padrões de qualidade estabelecidos pelas organizações  nacionais e internacionais. A concentração total de arsênio na água variou de 0,35 a 110 microgramas por litro, isto é, até 11 vezes acima dos limites legais. Nos sedimentos, a concentração total de arsênio variou de 738 a 2750 miligramas por kg, isto é, 125 a 466 vezes acima dos limites legais. As concentrações de arsênio no sedimento aumentam à medida em que diminui a distância da área da mineração.

As autoras encontraram uma correlação entre a concentração do arsênio presente na água e nos sedimentos e o arsênio presente nas amostras das diversas espécies de plantas utilizadas na alimentação em Paracatu. Os níveis de contaminação estavam abaixo daqueles encontrados nas verduras vendidas nos supermercados de Bangladesh, onde milhões de pessoas sofrem de arsenicose [4].

Segundo as autoras, as atividades da mineração constituem as fontes principais de liberação de arsênio para o ambiente. Elas informam que a drenagem ácida da mina aumenta a solubilização e dispersão do arsênio para os cursos d’água da região.

Ainda segundo as autoras, a poeira é o principal meio de transporte das emissões de arsênio para a atmosfera. Essas partículas são espalhadas pelo vento e retornam para o solo e cursos d’água por causa da deposição úmida (orvalho e chuva). Mas, no presente estudo, as autoras não analisaram o arsênio presente na poeira.


Referências e notas:

[1] Rezende PS, Costa LM, Windmöller CC. Arsenic Mobility in Sediments from Paracatu River Basin, MG, Brazil. Arch Environ Contam Toxicol. 2015 Feb 12. [Epub ahead of print]

[2] As autoras do estudo, Patricia Rezende, Letícia Costa e Cláudia Windmöller são cientistas do departamento de química da UFMG-Universidade Federal de Minas Gerais. A colheita de amostras para o estudo foi realizada pelas autoras entre os anos de 2010 e 2011. O estudo foi publicado em janeiro de 2015 na revista Archives of Environmental Contamination and Toxicology, uma revista especializada com corpo editorial e de circulação internacional.

[3] Sobre resultados preliminares deste estudo, leia também o comentário publicado em 2010: http://alertaparacatu.blogspot.ch/2010/04/estudos-fornecem-novas-provas-contra.html

[4] Em Bangladesh, a principal via de exposição ao arsênio é a via digestiva, através da ingestão de água contaminada. Em Paracatu, a via respiratória responde por importante parcela da exposição ao arsênio. A exposição total é o somatório da exposição por todas as vias.

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