Na guerra por Paracatu, canadenses usam armas químicas
Por Sergio U. Dani, de Göttingen, Alemanha, em 9 de maio de 2010
Paracatu é um município de 8232 km2 (cerca de um terço do território da
Palestina, um quinto do território da Suíça), na região sudeste do Brazil. A
sede administrativa está localizada no centro do município e concentra a
maioria da população, estimada em cerca de 90 mil habitantes no ano de 2010.
O nome do município, que é o mesmo da sua sede e do principal rio da região,
deriva da língua tupi-guarani: 'pará' ('opará') significa o mar em geral,
rio caudaloso + 'catu', bom, daí Paracatu significar um rio bom, navegável,
piscoso*.*
Até o início da tradição européia, no século 17, o território era habitado
pelo povo Bacuen. Esse povo indígena sofreu os processos de dominação
cultural, extermínio físico e expulsão de seu território pelos primeiros
exploradores da tradição 'bandeirante' que chegaram a Paracatu em busca do
ouro.
O apelido que os exploradores deram aos Bacuen, e pelo qual até hoje essa
primeira nação paracatuense é conhecida, reflete a primeira violência de
registro histórico praticada contra os povos nativos do lugar: 'Tapuios',
que em tupi significa 'bárbaros', 'inimigos'. De 'taba' – aldeia, e 'puir' –
fugir: 'os fugidos da aldeia', os que fazem 'tapuiadas' na 'tapuirama'.
As violências e as injustiça praticadas contra os Bacuen ficaram pouco
visíveis no registro histórico e fóssil, mas deixaram sinais na tradição
oral, como distrações em meio às disputas entre bandeirantes e exploradores
rivais, tanto no Brasil, como nas cortes portuguesa, inglesa e além.
Os bandeirantes e exploradores encontraram ouro em abundância nos aluviões
do córrego a que chamaram de 'Rico'. A descoberta atraiu aventureiros de
todas estirpes e todos credos e despertou a cobiça dos poderes nas
metrópoles. Eram tempos de mercantilismo, crescimento econômico,
industrialização e competição entre potências consolidadas e rivais
emergentes. Ainda não era chegado o tempo dos direitos humanos e do
desenvolvimento sustentável. Mesmo assim, sempre houve quem se importasse
com os Bacuen e a proteção de seu habitat natural, como que imbuídos do
dever da resistência.
O principal núcleo urbano de Paracatu desenvolveu-se em torno do Córrego
Rico. Outros núcleos se formaram em torno de outros córregos e ribeirões
tributários do rio Paracatu. Esses tributários foram rebatizados de 'santos'
pelos colonizadores, missionários e evangelizadores de tradição cristã que
acompanharam os exploradores: os córregos de Santo Antônio, São Domingos e
Espírito Santo, e os ribeirões de Santa Rita, Santa Isabel e São Pedro. São
as 'santas águas de Paracatu', bens tão sagrados para os Bacuen quanto para
os primeiros colonizadores.
Reações e cautelas contra o processo de extermínio e dominação sempre
existiram, mas apenas tornaram-se mais visíveis a partir da chegada do
capital minerador transnacional em Paracatu, ao final da década de 1980.
Esse fato determinou o término do garimpo do ouro de aluvião e o início da
mineração em rocha dura, causando grave impacto sócio-ambiental.
A primeira reação foi a dos milhares de garimpeiros artesanais de Paracatu,
que se viram impedidos de trabalhar nos córregos da região e expulsos de
seus territórios. A reação dos garimpeiros foi neutralizada pelos poderes de
governo e do capital minerador transnacional. Foi uma verdadeira operação
judicial, policial-militar e ideológica, em que forças do estado foram
transformadas em aparato repressor contra os garimpeiros de Paracatu e a
favor de uma mineradora transnacional.
A segunda reação veio duas décadas depois, com o anúncio do projeto de
expansão da mina de ouro a céu aberto em rocha dura pela mineradora
canadense Kinross. Em 2007, a Fundação Acangaú publicou no Jornal 'O Lábaro'
o seu primeiro relatório independente sobre os riscos e impactos do projeto
de expansão, dando início a um movimento de resistência ao projeto.
Diferentemente da reação dos garimpeiros, o movimento iniciado pela Fundação
Acangaú e apoiado pelo Instituto Serrano Neves baseia-se na divulgação de
informação científica de boa qualidade e na proposição de ações nas esferas
administrativas e judiciais.
O movimento cresceu apoiado na força da internet e constituiu uma verdadeira
'Organização para Libertação de Paracatu' (OLP), congregando pessoas e
instituições locais, nacionais, estrangeiras e internacionais contra a
prepotência do capital que financia a corrupção e o genocídio.
Essa OLP representa as forças de reação contra a corrupção e o genocídio em
curso em Paracatu. Os corruptores e genocidas carregam a bandeira do Canadá
e usam armas invisíveis e mortíferas: os pagamentos facilitadores, o arsênio
e o cianeto. Seu objetivo é se apoderar das reservas de ouro sob o
território de Paracatu. Para alcancar seu objetivo está envenenando, matando
e expulsando milhares de paracatuenses.
Curiosidade:
A Fundação Acangaú para Conservação e Uso Sustentável dos Ecossistemas
Naturais foi criada em 1991, por cientistas e empreendedores brasileiros e
alemães. A data marca também a época em que a região do alto ribeirão Santa
Isabel e seu vale readquiriram uma denominação indígena: Acangaú, de
'acanga', cabeça + 'ú', poço, fonte ou rio de água potável, 'rio da cabeça'.
Acangaú é o renascimento da força e tradição de um povo que resiste à
dominação.
Realmente "acanga" remete ao conceito de cabeça, entretanto "Ú" não é fonte, poço ou rio; "Ú" significa comer. Então o significado de Acangaú está mais para "comer cabeça" ou "comedor de cabeças". Em tempo, a tradução de água é "I".
ResponderExcluirCaro Professor Anônimo, explique, por favor, porque Cunhaú é "rio das mulheres" ao invés de "comedor de mulheres", e "Itaú" é "pedra preta" ao invés de "comedor de pedra".
ResponderExcluirPrezado Serrano Neves, é certo que o significado Cunhaú (município do Rio Grande do Norte) vem de kunhã (mulher) e ‘y (rio), logo rio das mulheres. Já pedra preta vem de "Ita" que siginifica pedra e "Una" que significa preto ou preta, então "Itaúna". Em alguns dicionários encontra-se a tradução de Itaú como sendo pedra preta, entretanto alguns também colocam como sendo rio das pedras (ita - pedra + 'y - rio).
ResponderExcluirPouco importa, tanto faz se Acangaú significa "rio da cabeça" ou "comedor de cabeça", o mais interessante é sua reação irônica e agressiva. Você poderia nem ter aceitado meu comentário, visto que existe uma análise (censura) prévia para aprovação, também poderia ter se certificado do significado correto do que está escrito no artigo, mas preferiu responder dessa maneira. Uma forma de resposta que me parece mais condizente com "acangaíma" que significa aquele ou pessoa que perdeu a cabeça, o controle de si; doido.
Prezado "Continua Anônimo", aceitamos todo tipo de comentário que seja moral e legalmente correto. O blog é público e não seria correto que eu me informasse e deixasse os leitores na dúvida. É de praxe que os anônimos sejam instados ou provocados para se revelarem, o que, no seu caso, ocorreu não pelo nome, mas pelo conteúdo esclarecedor e pelo "troco" (rssss). Aproveito para convidá-lo a revelar-se pelo nome - podendo ser em mensagem privada - e participar do Socio Environmental Think Tank ou "acangatã" (está correto ?), ajudando a pensar soluções.
ResponderExcluirTereiukatu.
Prezado Anônimo,
ResponderExcluiro editor do blog, Serrano Neves, foi ironico sim, mas nao foi agressivo. Agressivo foi V.Acia. ("Vossa Anonimencia"), que perdeu a oportunidade de ser magnanimo, se tivesse respondido apenas com o primeiro paragrafo. Alem de ironico, Serrano Neves tambem foi bastante esclarecedor (talvez um pouco Maquiavelico? rrssss...) ao publicar seus segundos comentários.
Deixando as ironias de lado, veja o que a Wikipedia escreve sobre o significado de um termo semelhante, "Anhangabaú":
"O nome possui várias origens, os indígenas que habitavam a região o temia bastante. Todos os significados levam ao indício básico do caráter suspeito de suas águas, não era potável:
. Anhangabaú ou Aanhangabaú pode ser - Anhangaba do Tupi diabrura, malefício, ação do diabo ou feitiço;
. Outro significado - Anhangabahú do Tupi - anhangaba-y, rio do malefício, da diabrura, do feitiço;
. Entre os índios tinha outro significado - Anhangabahy que no tupi é o mesmo que anhangá-y, rio ou água do mau espírito.
Essas afirmações foram compiladas por Teodoro Sampaio, pois em seu conceito esse rio era para os índios considerado um bebedouro de assombrações."
Compreende-se a confusao sobre o significado das palavras em tupi pela dificuldade de se encontrar, na lingua portuguesa, a representacao correta para os fonemas tupis. Eu prefiro usar "-u´" para representar "-y" em "Acangau´" (corrego/rio/fonte/poço da cabeça), por duas razoes:
1. A reforma ortografica eliminou a letra "y" do alfabeto brasileiro/portugues;
2. Como a criacao da Fundacao Acangau foi inspirada pela cultura indigena brasileira e europeia, achamos que Acangau (e nao "Acangai´") e´ a melhor grafia, porque tambem pode significar, em varias linguas do grupo indo-europeu (familia linguistica que engloba diversas linguas faladas por mais de 3 bilhoes de pessoas no mundo atual), "Aguas do Acang".
"Aue" e´ uma antiga palavra alema para ilha, i.e., terra cercada por agua, "ouwe", "ouwa", que significa agua, regiao plana inundada, cercada ou rica em agua, termos que tem tambem parentesco com o gotico "ahwa" (agua) e com o latim "aqua". No frances moderno, a pronuncia de agua (eau) soa quase como "u´".
Nos paises de lingua alema (Alemanha, Suica, Austria) existem varios lugares com a terminacao -au: Espenau, Schaffhau, Aarhau, Thurgau, etc...
Talvez devessemos, a partir de hoje, grafar simplesmente Acangau (sem acento agudo no "u").
Senhor médico, se defende tanto Paracatu e nosso Brasil, poderia, por gentileza, ter o cuidado de grafar corretamente o nome do nosso país, que, na nossa língua pátria, é com S e não Z.
ResponderExcluirSanto Arsênio! será que o "senhor médico" está defendendo o Brazil errado! Rsssss! Brazil com "z" não mata, arsênio mata.
ResponderExcluirPS.: Senhor Anônimo, Santo Arsênio é o patrono da poeira branca de arsênio que você respira em Paracatu. Leia a oração em:
http://alertaparacatu.blogspot.com/2009/08/oracao-de-santo-arsenio.html
nao entendi porra nenhuma
ResponderExcluirda proxima vez fala em um portugues mais claro
Caro anônimo, pelo seu vocabulário de calão não entenderia mesmo, o artigo foi escrito para ser lido por gente afeita a outro nível de linguagem, mas obrigado por comentar, rsss.
ResponderExcluirRedirecionando os comentários...
ResponderExcluirNão considerando os comentários de alguns leitores,venho manifestar apoio à Organização para Libertação de Paracatu (OLP). Vejo com grande apreciação o intuito de tornar público o debate acerca dos atos de genocídio e corrupção presente no contexto atual por vias históricamente determinadas. E em especial pela empresa de extração mineral em Paracatu.
Como Paracatuense nata, e Militante do Movimento Estudantil da Universidade federal do Tocantins, tenho o artigo como uma importante fonte de denúncia e informação.
Mais importante ainda é centrar as forças e as idéias acerca da denúncia, não diminuindo a necessidade de se entender a origem da palavra indígena, pois entendo que estamos falamos de transformação social.
A História e a liberdade do Povo Paracatuense, Mineiro, e todo um Estado, Nação e Mundo está comprometido.
A Luta é muito grande, e não será a descoberta da escrita indígena somente, que irá solucionar o cenário atual.
Parabenizo aos companheiros a sua sabedoria e entendimento sobre a língua indígena, e o reconhecimento de uma cultura tão amplamente minimizada pela influencia da sociedade envolvente. E reluto a necessidade de se debater sobre as políticas voltadas ao social. Verifiquemos o atual cenário político eleitoral, não é necessário muito censo crítico para ver a politicagem suja e mesquinha, esta infame situação tem seus reflexos nas diversas repressões e calamidades, uma delas a contaminação por estas substâncias químicas, que servem como dominação do da classe burguesa na defesa do capital em especial no capital estrangeiro.
Precisamos unir forças para Lutar contra as ações de dominação do Homem pelo próprio Homem!!
Contra a banalização da Vida Humana!
Contra o Preconceito, a Discriminação, a Violência!
CONTRA a divisão de Classes Sociais!
CONTRA as desigualdades!
VIVA a emancipação HUMANA!
Viva a Libertação do Povo Brasileiro!
Viva a Liberdade de Expressão!!
Viva o Movimento Popular Revolucionário!!
Deixo aqui minhas Saudações Vermelhas aos companheiros que respondem as injustiças, com a Luta do POVO!
Desde já, peço desculpas por quaisquer erros ortográficos, pois me envolvi com a temática e não com a grafia e fico a disposição para o debate!
Moniele Caldas Souza