quarta-feira, 28 de abril de 2010
O MICO DOURADO
Lembro, de criança, de um divertido e inofensivo jogo chamado Mico Preto.
O baralho era composto por um número de pares de cartas e uma carta com o hilário desenho de um mico preto.
O baralho era distribuídos e os jogadores iram tirando cartas das mãos uns dos outros e aquele que ficava com o mico preto perdia, e todos riam dele.
Lembrei do jogo porque são cinco horas da manhã, o sol se esforça para nascer e estou analisando custos sociais e ambientais de operação e custos de fechamento de minas.
A leitura causa espanto quando o dinheiro envolvido é medido em dólares e bilhões.
As equações são complexas e os gráficos complicados, mas dá para explicar de maneira simples: ao longo do tempo o lucro da exploração vai diminuindo e a dívida socioambiental aumentando.
A promessa de colocar tudo nos lugares quando a mina fechar é enganosa pois a poupança necessária para isto é dinheiro que não entra no bolso dos acionistas.
Para trabalhar sem ter que fazer poupança e aplicações as mineradoras fazem investimentos de "responsabilidade social" que são muito, muito, muito mais baratos (e bota barato nisto), e compram a simpatia da população e de algumas autoridades.
Mas não é só isso, pois abusam da ignorância e da falta de acesso à informação, publicando, quando publicam, coisas ininteligíveis para o povo em geral e para algumas autoridades também.
Oferecem compensação social, o que é aceito.
Compensação social é um pagamento feito para que a pessoa se distraia e não preste atenção na ruina. No exagero é algo mais ou menos assim: enquanto tiro o ouro eu enveneno a água que vai matar você e pago para você beber a água envenenada, e quando você morrer deixará de herança para a família a casa que comprou com o dinheiro que ganhou para beber água envenenada.
Bumba meu morro! a família ficará agradecida porque ganhou uma casa.
A esperteza consiste em pintar o mico preto de dourado e ai o jogador que está com ele na mão acha que é valioso e não quer que outro o pegue.
A mágica do dono do baralho é simples: quando o ouro acaba o mico volta a ser preto e está na mão dos outros.
sábado, 24 de abril de 2010
Mineradora polui as águas de Paracatu com arsênio
Estudo da UFMG comprova: Mineradora polui as águas de Paracatu com arsênio - Concentrações são muito altas e preocupantes, informam cientistas
Por Sergio U. Dani, de Göttingen, Alemanha, 18 de abril de 2010
Mais um estudo científico confirma a poluição grave e persistente das
águas de Paracatu com arsênio da mina de ouro operada pela mineradora
canadense RPM/Kinross Gold Corporation.
O estudo foi conduzido pela pesquisadora Patrícia Rezende, sob
orientação de Letícia Costa e Cláudia Windmöller, ambas
professoras-doutoras do Departamento de Química da UFMG [1,2].
As pesquisadoras mediram a quantidade de arsênio nos sedimentos dos
córregos e rios do município. Segundo elas, a análise da poluição das
águas pelo método de dosagem dos poluentes nos sedimentos revela
informações mais confiáveis que a simples dosagem na água, pois os
poluentes carregados pela água ficam retidos nos sedimentos de forma
mais duradoura.
"É como se os sedimentos contassem a história da água que passa",
explica Rezende.
Os sedimentos dos córregos e rios de Paracatu estudados pelas
pesquisadoras apresentaram uma concentração natural média abaixo de 2
mg de arsênio por quilo. Após a passagem dos córregos e rios por
Paracatu, a concentração média aumenta para 150 mg de arsênio por
quilo, podendo chegar a mais de 1000 mg por quilo.
As concentrações mais altas foram observadas no ponto de amostragem
PTE023, no Córrego Rico. Uma medição feita em Agosto de 2008 indicou
uma concentração de 1116 mg de arsênio por quilo de sedimento, o que
corresponde a uma concentração 190 vezes maior que a estipulada pela
legislação do CONAMA (Conselho Nacional de Meio Ambiente) e 744 vezes
maior que a concentração média natural dos rios e córregos da região.
A maior parte do arsênio detectado no sedimento do leito do Córrego
Rico neste ponto está na forma de arsenopirita, mineral presente na
mina de ouro na proporção média de 1 kg por tonelada de minério [3].
Neste ponto também foi detectado o argilomineral ilita. Esse mineral
também é encontrado na mina de ouro operada pela canadense Kinross, e
o ponto de amostragem está a jusante da mina.
O arsênio da mina de Paracatu pode alcançar os córregos de duas
maneiras principais: pela deposição da poeira contaminada e pela
drenagem ácida da mina e da lagoa de rejeitos. Os resultados da UFMG
contradizem os resultados de auto-monitoramento realizados pela
mineradora e aceitos pelos órgãos públicos de controle ambiental.
“A contaminação por arsênio atingiu teores superiores ao nivel 2 do
CONAMA (17 mg.kg-1) em Paracatu. Essa região apresenta teores de
arsenopirita naturais elevados, que estão sendo liberados para o meio
ambiente devido à atividade de mineração de ouro” – informam as
pesquisadoras.
Não é a primeira vez que estudos científicos comprovam a poluição das
águas de Paracatu pela mineradora canadense Kinross. Estudo realizado
pelo pesquisador Giovani Melo e publicado em 2008 em Paracatu já
revelava uma contaminação de gravidade extrema, com repercussões sobre
a saúde da população [4,5].
Referências:
[1] Rezende PS. 2009. Avaliação da mobilidade e biodisponibilidade de
metais traço em sedimentos da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco.
Tese de Mestrado em Química. Universidade Federal de Minas Gerais,
UFMG, Brasil.
[2] Moura PAS, Rezende PS, Nascentes CC, Costa LM, Windmoeller CC.
Quantificação e distribuição de arsênio e mercúrio em sedimentos da
Bacia do Rio São Francisco. In: XXII Encontro Regional da Sociedade
Brasileira de Química, MG, 2008, Belo Horizonte.
[3] Henderson RD. 2006. Paracatu Mine Technical Report. Kinross Gold
Corporation, July 31, 2006. Disponível na internet em:
http://www.kinross.com/operations/pdf/Technical-Report-Paracatu.pdf
[4] Dani SU. Agora está confirmado: RPM/Kinross polui água de Paracatu
com metais pesados. Níveis são alarmantes e contaminação já atinge as
áreas vizinhas da mina. Jornal Alerta Paracatu, Ano I, número 00,
edição especial de junho de 2008, p. 23. Fundação Acangaú, Paracatu,
MG, Brasil.
[5] Melo G. Contaminação é de gravidade extrema, diz especialista.
Jornal Alerta Paracatu, Ano I, número 00, edição especial de junho de
2008, p. 24. Fundação Acangaú, Paracatu, MG, Brasil.
quinta-feira, 22 de abril de 2010
SEMINÁRIO DE COMUNICAÇÃO COMUNITÁRIA
Convite: Dia 24 de abril, sábado, 8:00 horas, no Cine Teatro Santo Antonio, Praça da Matriz, em Paracatu.
SEMINÁRIO DE COMUNICAÇÃO COMUNITÁRIA E SUSTENTABILIDADE LOCAL
Faculdade de Educação da Universidade de Brasília - Programa Escola de Comunicação Comunitária/Rede Comunitária de Educação.
sábado, 17 de abril de 2010
Samba do Bin Laden em Brasília
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Samba do Bin Laden em Brasília
Por Sergio U. Dani, de Göttingen, Alemanha, 15 de abril de 2010
Resumo: Os gigantescos danos sociais e ambientais causados pela mineração a céu aberto em Paracatu superam o valor bruto das reservas de ouro. Apesar disso, ministro do STJ afirma que “os riscos de grave lesão à economia estão devidamente caracterizados.” Quando a corte superior do Brasil autoriza mentiras, corrupção, poluição, prejuízos de bilhões ao país e um verdadeiro genocídio, ela perde seu referencial moral e ético, perde sua legitimidade e pratica a mais abominável forma de terrorismo.
A mineradora de ouro canadense Kinross obteve ontem decisão favorável do Superior Tribunal de Justiça (STJ), para levar à frente o projeto de expansão das atividades da Minas do Morro do Ouro da empresa Rio Paracatu Mineração, localizada em Paracatu, na região Noroeste do Estado. [1]
Samba do Bin Laden em Brasília
Por Sergio U. Dani, de Göttingen, Alemanha, 15 de abril de 2010
Resumo: Os gigantescos danos sociais e ambientais causados pela mineração a céu aberto em Paracatu superam o valor bruto das reservas de ouro. Apesar disso, ministro do STJ afirma que “os riscos de grave lesão à economia estão devidamente caracterizados.” Quando a corte superior do Brasil autoriza mentiras, corrupção, poluição, prejuízos de bilhões ao país e um verdadeiro genocídio, ela perde seu referencial moral e ético, perde sua legitimidade e pratica a mais abominável forma de terrorismo.
A mineradora de ouro canadense Kinross obteve ontem decisão favorável do Superior Tribunal de Justiça (STJ), para levar à frente o projeto de expansão das atividades da Minas do Morro do Ouro da empresa Rio Paracatu Mineração, localizada em Paracatu, na região Noroeste do Estado. [1]
.BARBÁRIE OU GENOCÍDIO?
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BARBÁRIE OU GENOCÍDIO?
por Serrano Neves - Goiânia, 17 de abril de 2010
Analisando o quadro histórico da mineração no mundo verifiquei que no Brasil não há diferença em relação aos danos que são causados ás populações.
Analisando o Brasil, em especial, verifiquei que Paracatu é uma "xerox" do que ocorre em outros lugares, principalmente em relação à contaminação (ar, água, solo, humanos) por metais pesados, arsênio e mercúrio em especial.
Analisando Paracatu como destaque, a rocha arsenopirita que contém o ouro é um anúncio de que se mexer nela "vai sair veneno" (arsênio), e tanto vai sair que a história da cidade registra a "maldição" do Morro do Ouro.
A vida é um perigo em si mesma pois as pessoas certamente morrerão por conta de doença ou velhice.
Viver é um perigo constante pois quando nós mesmos não estamos nos envolvendo em perigos tem alguém fazendo alguma coisa perigosa que pode nos atingir, ou seja, podemos ser atropelados por um carro, mortos por um assaltante, soterrados por uma casa mal construída etc.
BARBÁRIE OU GENOCÍDIO?
por Serrano Neves - Goiânia, 17 de abril de 2010
Analisando o quadro histórico da mineração no mundo verifiquei que no Brasil não há diferença em relação aos danos que são causados ás populações.
Analisando o Brasil, em especial, verifiquei que Paracatu é uma "xerox" do que ocorre em outros lugares, principalmente em relação à contaminação (ar, água, solo, humanos) por metais pesados, arsênio e mercúrio em especial.
Analisando Paracatu como destaque, a rocha arsenopirita que contém o ouro é um anúncio de que se mexer nela "vai sair veneno" (arsênio), e tanto vai sair que a história da cidade registra a "maldição" do Morro do Ouro.
A vida é um perigo em si mesma pois as pessoas certamente morrerão por conta de doença ou velhice.
Viver é um perigo constante pois quando nós mesmos não estamos nos envolvendo em perigos tem alguém fazendo alguma coisa perigosa que pode nos atingir, ou seja, podemos ser atropelados por um carro, mortos por um assaltante, soterrados por uma casa mal construída etc.
domingo, 4 de abril de 2010
Troca de água potável por veneno
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Nada faz sentido na troca de água potável por veneno em Paracatu, MG,
Brazil, exceto pelos ralos da corrupção
Por Sergio U. Dani, de Göttingen, em 4 de Abril de 2010
Em Paracatu, cidade de 84 mil habitantes do noroeste do Estado de Minas Gerais, Brasil, o Ribeirão Santa Isabel – principal fonte de água potável da cidade desde 1996 – está secando. O manancial perdeu 3 bilhões de litros de água em 18 anos.
Antes do Santa Isabel, o abastecimento desta cidade de mais de 300 anos era garantido pelo Córrego Rico e nascentes, cisternas e poços semi-artesianos localizados no espaço urbano e na bacia do Ribeirão Santa Rita. As nascentes do Córrego Rico foram destruídas pela mineração de ouro a céu aberto a partir de 1987, e as cisternas e os poços urbanos estão esgotados ou contaminados.
Nada faz sentido na troca de água potável por veneno em Paracatu, MG,
Brazil, exceto pelos ralos da corrupção
Por Sergio U. Dani, de Göttingen, em 4 de Abril de 2010
Em Paracatu, cidade de 84 mil habitantes do noroeste do Estado de Minas Gerais, Brasil, o Ribeirão Santa Isabel – principal fonte de água potável da cidade desde 1996 – está secando. O manancial perdeu 3 bilhões de litros de água em 18 anos.
Antes do Santa Isabel, o abastecimento desta cidade de mais de 300 anos era garantido pelo Córrego Rico e nascentes, cisternas e poços semi-artesianos localizados no espaço urbano e na bacia do Ribeirão Santa Rita. As nascentes do Córrego Rico foram destruídas pela mineração de ouro a céu aberto a partir de 1987, e as cisternas e os poços urbanos estão esgotados ou contaminados.
sexta-feira, 2 de abril de 2010
Silencio letal
Por Apolo Heringer Lisboa (*), em 2 de abril de 2010
Em Paracatu tem uma mineração de ouro canadense. Após receber uma denúncia amparada por dados científicos sobre a poluição ambiental, solicitei formalmente - e está documentado - que a FEAM, que defendeu o licenciamento e o COPAM que aprovou o empreendimento, se manifestassem publicamente prestando contas à sociedade e dizendo que as acusações e dados apresentados eram falsos, e que se responsabilizavam pelo empreendimento e o estavam fiscalizando e monitorando física, química e biologicamente.
Assim poderíamos fazer nosso juízo. Pois nem todas denúncias são válidas. Desta forma, a sociedade estaria sendo protegida pelos mecanismos democráticos.
Mais de um ano após minha solicitação, ainda não tomei conhecimento de nenhuma manifestação dos órgãos públicos. Aí está o problema da gestão quando peca pelo desrespeito aos direitos dos cidadãos e prioriza o poder econômico.
Ninguém pode dizer que esta cobrança minha seja posição e atitude anti-mineração, preconceituosa, anti-capitalista ou de má vontade.
Qualquer movimento social tem o direito de receber respostas e terem seus receios levados a sério. Mesmo sendo de oposição, por que não?
Isto preserva a sociedade de surpresas desagradáveis e letais.
A maior parte do ouro produzido pelas minas em todo o mundo é para a fabricação de jóias. E especulação. Os outros usos industriais, alguns fundamentais, não exigiriam tanto estrago da paisagem, da biodiversidade e contaminação ambiental em tantos países do mundo.
Está claro que a extração cria alguns empregos. Mas não se pode analisar geração de empregos de forma isolada da ética. Ou como um valor em si. Para que servirão estes empregos?
O tráfico de drogas e a prostituição geram mais empregos, e são fontes de satisfação de muitos comerciantes e usuários. O sistema democrático e a liberdade de opções só se tornam socialmente legítimos quando
passam pelo crivo da aprovação social após discussões amplas e deliberações.
Isto não tem ocorrido, pois o poder econômico e o sistema “partidário-subjudice” é que decidem autonomamente. O sistema de licenciamento e outorga não respeita a biodiversidade (relegando aos SNUCs esta missão) nem a qualidade das águas (enquadramento dos rios e bacias, ou o direito de sobrevivência das comunidades aquáticas).
(*) Medico, Professor de Medicina Preventiva e Social da UFMG-Universidade Federal de Minas Gerais, coordenador do Projeto Manuelzão.
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