segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Novas evidências do aumento de doenças e mortes causadas pela mineração a céu aberto


Pesquisa da Universidade de Indiana fornece evidência forte de aumento de doenças e mortes causadas pela mineração a céu aberto

Michael Hendryx, pesquisador da Universidade de Indiana, Estados Unidos da América

Foto: Mina de ouro a céu aberto da Kinross, em Paracatu, MG

« Nosso primeiro estudo descobriu que pessoas que viviam perto de minas a céu aberto apresentaram níveis mais altos de mortalidade e doença. E essa relação persiste, mesmo quando você controla as covariaveis de que as pessoas mais falam, então não é que as pessoas nessas comunidades fumem mais, ou que as taxas são mais altas, ou as taxas de obesidade são mais altas - podemos controlar para elas e ainda vemos um efeito independente sobre uma variedade de resultados de saúde. Não só as pessoas que vivem em regiões mineradoras são menos saudáveis, mas descobrimos que, à medida que os níveis de mineração aumentam, os impactos na saúde se tornam cada vez mais pronunciados.

Descobrimos que as partículas em geral são elevadas em comunidades de mineração em comparação com outras comunidades sem mineração. Quando olhamos para a distribuição de tamanho dessas partículas, eles estavam principalmente no intervalo ultra-fino, o que foi um pouco surpreendente para nós. Quando você pensa sobre a mineração, você pensa no pó da explosão, então eu teria adivinhado que teria sido um material mais grosso como PM 10 [particulate matter 10 micrometros], por exemplo. Na verdade, onde a diferença era maior era nas partículas muito pequenas. Quanto menor a partícula, mais perigosas eles são peso-por-peso, por assim dizer. Porque com partículas pequenas, quase toda ela é superfície. Então, seja qual for o material, ele entrará em contato com o tecido biológico. Além disso, porque são tão pequenas, essas partículas podem penetrar profundamente no tecido pulmonar e podem até mesmo passar dos pulmões para o sistema vascular e, em seguida, ir literalmente a qualquer lugar do corpo.

Se você olhar para a literatura principalmente da Europa - a Europa está à frente de nós sobre isso - eles estão descobrindo que particulas ultrafinas são mais preocupantes para a saúde humana do que partículas como a PM 2.5, para as quais temos padrões. Os EUA não possuem nenhum padrão para particulas ultrafinas. Mas a comunidade científica está à frente da comunidade reguladora sobre isso ao reconhecer sua ameaça.



Foto: Michael Hendryx, pesquisador da Universidade de Indiana, Estados Unidos da América.

O processo de mineração também contamina literalmente bilhões de litros de água em toda a região. Os rejeitos da mineração terminam em imenso aterros ou barragens de rejeitos. Todos os anos, recebo mensagens de pessoas no Facebook, mostrando, por exemplo, descargas de cor estranha que fluem por um riacho de alguém a jusante dessas barragens de rejeitos.

Existe o argumento que a indústria tenta fazer que esses estudos sejam meramente correlacionais. E eles ainda tentam dizer - e eu não sei como eles insistem nisso, porque não está correto - que as causas das doenças e das mortes estão ligadas apenas a questões de estilo de vida como o tabagismo ou a obesidade, mas é claro que não é assim. Quero dizer, mostramos uma e outra vez que não são essas coisas. Portanto, de uma visão estritamente epistemológica, ainda não destrinchamos todas as conexões, mesmo assim, existe uma correlação.

Estamos estudando uma situação em que muitas pessoas estão morrendo e, para nós, dizer que é apenas correlacional e, portanto, devemos continuar estudando até saber mais, consieramos imoral neste momento. 

As áreas de mineração a céu aberto têm taxas de desemprego mais altas e mais pobreza que em qualquer outro lugar da região, porque estas são atividades destruidoras de trabalho, não criadoras de trabalho. Quando você compara a mineração a céu aberto com a mineração subterrânea, a quantidade de mineral produzida por trabalho é muito maior na mineração a céu aberto. Isso é devido ao uso de explosivos e ao uso de maquinaria pesada que substitui o trabalho humano por trabalho mecanizado. Portanto, essas minas podem ser enormes, mas eles requerem poucos empregos.

Explodindo montanhas, desmatando grandes extensões de terra, criando fluxos de poluentes, destruindo estradas de tanto transitar com caminhões, cobrindo a paisagem com poeira, deixando as pessoas doentes - que outros empregadores vão mudar para essa área? Se você não tiver a sorte de ter um desses empregos, provavelmente não obterá nada, ou você talvez tenha um emprego de tempo parcial, porque não há outras oportunidades, a base econômica foi destruída.

A percepção que as pessoas têm é que isso é uma espécie de negociação entre o meio ambiente e o trabalho, e na verdade não é - é uma negociação entre o meio ambiente e os lucros de algumas poucas pessoas.»

Fonte: 

« Our first study found that people who lived near mountain top revomal (MTR) mining sites had higher levels of mortality and illness. And that relationship persists even when you control for the covariants that people talk about, so it’s not that people in those communities smoke more, or that the poverty rates are higher, or obesity rates are higher – we can control for those and we still see an independent effect on a variety of health outcomes. Not only are people who live in mining regions less healthy, but we found that as the levels of mining go up, the health impacts become increasingly more pronounced.

We have discovered that particulate matter as a rule is elevated in mining communities compared to other communities without mining. When we looked at size distribution of these particles, they were mostly the ultra-fine range, which was kind of surprising to us. When you think about mining, you think of the dust from the blasting, so I would have guessed that it would have been coarser material like PM [particulate matter] 10, for example. In fact, where the difference was greater was in the very small particles. The smaller the particle, the more dangerous they are pound-for-pound so to speak. Because with small particles, almost all of it is surface. So whatever the material is, it is going to come into contact with biological tissue. Also, because they’re so small, these particles can penetrate deeply into lung tissue and they can potentially even pass through the lungs and into the vascular system and then go literally anywhere in the body.

So if you look at the literature mostly from Europe — Europe’s ahead of us on this — they are finding that ultra-fines are of greater concern for human health than particles like PM 2.5, which we have standards for. The U.S. doesn’t have any standards for ultra-fines. But the scientific community is ahead of the regulatory community on this in recognizing their threat.

The mining process also contaminates literally billions of gallons of water across the region. The contamination ends up in earthen-lined slurry impoundments. Many times every year, I get messages from people on Facebook, for example, showing strangely colored black or orange discharges flowing down somebody’s creek downriver of these processing sites.

There is the argument that the industry tries to make that these studies are correlational. And they still try to say — and I don’t know how they get away with it, because it is just not factually correct — that it is just lifestyles issues like smoking or obesity, but it’s clearly not. I mean, we’ve shown over and over that it is not those things. So from a strictly epistemological view, we haven’t nailed down all the connections yet, but it is correlational.

We are studying a situation where many people are dying, and for us to say it is only correlational and so let’s keep studying until we know more, I think is immoral at this point.

Mining areas have higher unemployment rates and more poverty that anywhere else in the region because these are job-destroying activities, not job-creating ones. When you compare open cut mining with underground mining, the amount of mineral that is produced per job is much higher at the mountaintop site. That’s because of the use of explosives and the use of this heavy machinery that replaces human labor with mechanized labor. So these sites can be huge, but they require very few jobs.

Blowing up mountains, deforesting large tracts of land, polluting streams, destroying roads from all the trucks going by, coating the landscape in dust, making people sick — what other employers are going to move into that area? If you aren’t lucky enough to have one of those jobs, you’ve probably got nothing, you’ve got maybe a part-time job at the Dollar Store. Because there aren’t other opportunities, the economic base has been destroyed.

The perception that people have is that this is kind of a trade-off between the environment and jobs, and it’s really not — it’s a trade-off between the environment and the profits of a few people. »

Source:
http://e360.yale.edu/features/a-troubling-look-at-the-human-toll-of-mountaintop-removal-mining

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