domingo, 22 de novembro de 2015

As causas do desastre de Bento Rodrigues

Sergio Ulhoa Dani, de Berna, Suíça

Na tarde do dia 5 de novembro de 2015, uma avalanche de 50 bilhões de litros de lama oriunda do rompimento de uma barragem de resíduos da mineração da empresa Samarco - subsidiária da anglo-australiana BHP Billiton e da brasileira Vale - varreu o distrito de Bento Rodrigues, no município de Mariana, Minas Gerais, Brasil. Dezenas de pessoas foram mortas e a fauna do rio Doce foi aniquilada. Duas semanas mais tarde, após percorrer 900 kilômetros rio abaixo, a lama chegava ao oceano Atlântico.

Os boçais, os perversos, os covardes, os canalhas dizem que as causas do desastre de Bento Rodrigues são naturais. Negar a própria culpa é próprio desses irresponsáveis, hipócritas e cínicos.

As verdadeiras causas da própria existência das barragens de rejeitos da mineração sobre vales e mananciais, em Bento Rodrigues e tantos outros lugares, em Minas Gerais e no Brasil, são as piores humanas: ganância, desconsideração e desrespeito ao próximo, ignorância, desinformação, despreparo e incompetência, preguiça, desatenção, negligência, indisciplina, irresponsabilidade, egoísmo, oportunismo, corrupção e perversidade. O rompimento da barragem da Samarco foi mera consequência desse lamaçal humano que a produziu.

Os gananciosos e irresponsáveis das mineradoras querem lucros a qualquer custo, diferem os custos da mineração para o ambiente e a sociedade. Contratam os piores elementos e financiam os políticos inescrupulosos, ignorantes, corruptos, oportunistas e demagogos para afrouxarem os padrões de qualidade e segurança da mineração.

A mídia recebe gordas quantias para fazer a propaganda enganosa do "emprego e renda" das mineradoras. A populaça assiste a tudo, embestalhada, escravizada, impotente, e muitas vezes cúmplice e conivente. As ONGs “ambientalistas” deixam em paz as mineradoras, os políticos corruptos e os estróinas do governo, em troca do seu quinhão: dinheiro, favores, sinecuras.

Os irresponsáveis, descabeçados, incompetentes e covardes do governo, inquilinos dos três poderes e malfeitores do DNPM, SUPRAM, IGAM, COPAM e outras tantas sinecuras, muitos apaniguados das mineradoras, licenciam a mineração nas coxas e não fiscalizam, ou fiscalizam mal, ou fingem que fiscalizam, ou simplesmente diferem a fiscalização para as próprias mineradoras, essa aberração chamada de “auto-monitoramento”. 

Minas Gerais é o Estado campeão dos absurdos, o Estado que produziu aberrações como a terrorista Dilma Rousseff que virou presidente e desbaratou o Brasil com seus asceclas do PT, apenas para citar a mais conhecida. Mas existem centenas de outras aberrações menos conhecidas. Wilson Brumer, por exemplo, ex-secretário de Estado da Indústria do governo de Aécio Neves, a quem não bastou ter quebrado a empresa estatal Acesita. Brumer também facilitou a vida das mineradoras, entre elas a anglo-australiana BHP e a canadense Kinross Gold Corporation, vindo a tornar-se diretor dessa mineradora no Canadá - prêmio pela competência ou pelos serviços prestados?

Membros das Polícias, do Ministério Público e até certos juízes das Minas Gerais, verdadeiras versões modernas dos "Intendentes das Minas" dos séculos passados, recebem “pagamentos facilitadores” das mineradoras, sem se importar com a promiscuidade que facilita os negócios sujos e genocidas dessas empresas.

Em 2011, o Ministério Público do Estado de Minas Gerais firmou um acordo espúrio com a Kinross, pelo qual o MPMG recebe um mensalão dessa mineradora que explora a maior mina de ouro a céu aberto do Brasil, com a condição de paralisar Ações Civis Públicas movidas contra ela. Paulo Campos Chaves, o Promotor de Justiça encarregado de cuidar da Ação Civil Pública movida contra a mineradora pela Fundação Acangau, senta em cima da ação, dificulta a vida da fundação e facilita a vida da mineradora. Coincidência ou não, sua filha trabalha como advogada para a Kinross em Paracatu. 

Antes de Chaves, um Juiz de Direito de Paracatu, João Ary Gomes, recebeu doações da mineradora para ajudar ações da justiça, como a reforma do Forum de Paracatu. Esse mesmo juiz chegou a condecorar o gerente da mina de Paracatu, Luis Alberto Alves, com uma medalha do mérito judiciário. 

Depois dessa condecoração exdrúxula, uma outra estranha ocorreu no Rio de Janeiro. Eike Batista, testa de ferro e antigo proprietário da mina de ouro de Paracatu e outras tantas minas pelo Brasil afora, ouviu a declaração emocionada do seu filho mais velho, durante a cerimônia de entrega da Medalha Santos Dumont ao seu pai-herói. Para Thor Batista, seu pai Eike "é um ídolo e uma referência do que é certo". Teria Thor se referido ao fato de Eike Batista ter obtido informações privilegiadas do seu avô, o velho Eliezer Batista, ex-Presidente da Vale do Rio Doce, dona da Samarco, para montar seu império de mineração? Ou será que ele teria se referido à astúcia do pai, de ter passado o mico da mina de ouro de Paracatu adiante para a Kinross? Afinal, quem vai querer um trilhão de litros de lama contendo um bilhão de litros de arsênio, armazenados nas barragens de rejeitos da Kinross em Paracatu, o cenário perfeito da mega catástrofe, mil vezes mais letal que a de Bento Rodrigues?

Não, o desastre de Bento Rodrigues não é natural, nem aconteceu por acaso. Ele é um troféu à boçalidade mineira e brasileira.

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