Por Sergio Ulhoa Dani, de Bremen,
em 01 de julho de 2014.
A Unidade Móvel do Hospital de Câncer de Barretos visitou Paracatu
novamente, dia 28 de maio passado. Dessa vez, 180 pacientes foram examinados,
aconselhados e tratados pela equipe liderada pelo Dr. Carlos Eduardo Goulart Silveira. Durante a primeira visita, realizada entre os dias 6 e 7 de novembro de 2012, 500 pessoas foram atendidas pela equipe liderada pelo Dr. Raphael Luiz Haikel Jr.
A Unidade Móvel é montada sobre uma carreta. A infraestrutura é simples:
um consultório e uma sala para realização de pequenos procedimentos
diagnósticos e cirúrgicos como exame ginecológico e urológico, biópsia e
excisão de tumores de pele e próstata. A equipe é composta de um médico, três
enfermeiras ou ajudantes de enfermagem, um motorista. A troupe viaja para as
regiões mais remotas e desatendidas do país, com a missão de diagnosticar e
prevenir alguns dos tipos de câncer mais comuns, como os cânceres de pele e
aparelho genitourinário (figura 1).
Figura 1: Unidade Móvel do
Hospital do Câncer de Barretos, durante a campanha de maio em Paracatu.
Uma das incentivadoras das vindas da Unidade Móvel à Paracatu é a advogada
e voluntária Rafaela Xavier Luiz. Desde meados de 2011, Rafaela faz a ponte entre a
população desamparada de Paracatu e o Hospital do Câncer de Barretos. “Os
custos da vinda da Unidade Móvel à Paracatu foram cobertos com trabalho
voluntário e recursos arrecadados em campanhas, leilões e shows beneficentes.
Em Paracatu, nós não podemos contar com o apoio dos governantes”, diz Rafaela (figura
2).
Figura 2: À esquerda, excisão de um tumor de pele localizado no flanco de um paciente, durante a campanha de maio da Unidade Móvel do Hospital do Câncer de Barretos em Paracatu. Esse tumor foi diagnosticado como carcinoma espinocelular, um tipo de
câncer de pele frequentemente causado pela intoxicação crônica pelo arsênio. À direita, Rafaela Xavier Luiz e o médico Carlos Eduardo Goulart Silveira, chefe da equipe da Unidade Móvel.
Rafaela tem razões de sobra. Paracatu é conhecida no Brasil e no mundo como a cidade que experimenta um aumento vertiginoso do número de casos de câncer e abortos espontâneos. Para nós médicos e cientistas, as duas epidemias estão associadas à intoxicação crônica da população pelo arsênio lançado no ambiente pela mineradora de ouro transnacional canadense, a genocida Kinross Gold Corporation.
Entretanto, os governantes e amigos da transnacional genocida Kinross
tentam de tudo para desqualificar a medicina e a ciência. No início desse ano, apresentaram
um relatório encomendado e pago com recursos públicos ao CETEM, órgão do
governo federal ligado à Kinross Gold Corporation, para concluir que não existe
associação entre arsênio e câncer na cidade [1].
Inexplicavelmente, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) não move
uma palha sequer contra a farsa montada pelos genocidas e seus aliados [2]. Pelo
contrário, sua inação até favorece o morticínio e a tapeação oficial pró-Kinross.
A única Ação Civil Pública contra o genocídio foi proposta pela Fundação
Acangau, em 2009. Em vez de apoiar esta ação, o MPMG tentou encerrá-la, em
decorrência de um esdrúxulo acordo que firmou com a genocida Kinross. Desde
2009, a ação está imóvel no Forum da cidade.
Diante desses escândalos que há anos estamos denunciando em Paracatu, no
Brasil e no mundo, o Ministério Público Federal (MPF) resolveu agir. O MPF está
investigando as circunstâncias da contratação e preparação do relatório do
CETEM, sob fortes indícios de irregularidades que vão desde a ausência de
licitação até a inadequação dos métodos de estudo. Apesar de correta e há muito
esperada, esta é uma atitude ainda tímida e isolada do MPF. Para combater o
genocídio de Paracatu, é preciso mobilizar a comunidade, e isto a Unidade Móvel
do Hospital do Câncer de Barretos também está mostrando: o que move, comove.
Notas:
[1] O relatório preparado pelo CETEM foi apresentado em março deste ano
em audiência pública realizada no auditório da Câmara Municipal de Paracatu. O
auditório estava lotado de vereadores e promotores. Os 400 mil reais usados pelos
governantes para comprar o relatório foram retirados dos cofres públicos, sob
as barbas e os aplausos dos vereadores e dos promotores públicos estaduais. Em
vez de fazerem a genocida Kinross interromper a poluição e o genocídio e arcar
com os custos do saneamento ambiental, diagnóstico, tratamento e indenização
das vítimas em Paracatu, os vereadores do município de Paracatu e os promotores
públicos estaduais deixam o prefeito e seus assessores usarem os impostos pagos
pelas vítimas da intoxicação pelo arsênio, para comprar um relatório que nega a
existência das próprias vítimas.
[2] A imobilidade do Ministério Público Estadual é inexplicável, visto
que no Brasil improbidade administrativa gera inquérito e processo, e genocídio culposo gera a obrigação de indenizar.
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