Desta vez a vítima, uma paciente de 19 anos, desenvolveu sintomas neurológicos, hematológicos e gastrointestinais durante a gravidez, vindo a perder o feto de 22 semanas. A equipe médica interdisciplinar do Hospital de Base de Brasília diagnosticou intoxicação crônica pelo arsênio.
A paciente vive em Paracatu, cidade contaminada pelo arsênio liberado pela maior mineração de ouro a céu aberto do Brasil, operada pela transnacional canadense Kinross Gold Corporation.
O arsênio é absorvido através das vias respiratória e gastrointestinal e acumula-se lentamente nos ossos das pessoas. Durante a gravidez, a taxa de osteoressorção aumenta, e consequentemente a taxa de liberação do arsênio armazenado cronicamente nos ossos aumenta, podendo atingir níveis de intoxicação sub-aguda.
Este não é o primeiro caso de morte causada pela Kinross em Paracatu, nem será o último, pois o arsêno liberado pela mineradora continuará matando por décadas e séculos. Mas este é um dos casos mais bem documentados até o momento.
Em 2009, a Fundação Acangau entrou com uma ação civil pública em Paracatu exigindo a realização de um estudo epidemiológico, clínico e laboratorial de toda a população da cidade. Passados 7 anos, o pedido ainda não foi atendido, e as pessoas continuam a ser intoxicadas e mortas pela Kinross em Paracatu, com a cumplicidade de certos políticos e a condescendência de certas autoridades do Ministério Público e da Justiça.
A vítima desta vez entrou com uma ação contra a Kinross. A depender do padrão de impotencia, inação, cooptação, incompetência e corrupção por parte de certas autoridades de Paracatu e do Brasil, a vítima corre o risco de ser culpada por ter nascido em Paracatu, e a invasora Kinross inocentada de mais um crime hediondo.
Sergio Ulhoa Dani, de St.Gallen, Suíça, em 01 de agosto de 2016
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