segunda-feira, 19 de julho de 2010

Arsênio em Paracatu atinge níveis de genocídio

Arsênio em Paracatu atinge níveis de genocídio

Por Sergio U. Dani, médico e cientista, de Göttingen, Alemanha, 18 de julho de 2010

Concentrações medidas de arsênio entre 32 mg/Kg e 2980 mg/Kg em amostras de poeira colhidas nas residências e estabelecimentos comerciais da cidade de Paracatu indicam que milhares de pessoas estão sendo envenenadas crônicamente na cidade de 85 mil habitantes do noroeste do estado de Minas Gerais, Brasil.

As amostras foram colhidas em duplicata em 20 residências e estabelecimentos comerciais localizados no centro e na periferia da cidade de Paracatu por pesquisadores do Instituto Medawar e da UFMG. As análises foram feitas em duplicata no Departamento de Química da Universidade Federal de Minas Gerais e no Laboratório de Análises Geoquímicas do Instituto de Mineralogia da Universidade Técnica de Minas de Freiberg, na Alemanha.

A poeira contendo arsênio é liberada 24 horas por dia a partir da mina de ouro a céu aberto operada na cidade pela mineradora transnacional canadense Kinross Gold Corporation. As rochas da mina contém arsenopirita, o principal minério de arsênio. De cada tonelada de minério, a mineradora retira em média apenas 0,4 g de ouro, mas 1 kg de arsênio.



As atividades de mineração em rocha dura que envolvem explosão,
carregamento, transporte, britagem e moagem da arsenopirita resultam na
dispersão de quantidades inacreditáveis de arsênio tóxico que de outra forma
estaria preso nas rochas sem causar mal. O arsênio liberado percorre longas
distâncias através do vento e da água, afetando a saúde de plantas, animais
e seres humanos.

Estudos científicos provam que concentrações de arsênio no solo da ordem de
7 mg/kg (7 partes por milhão, ou "ppm") já causam efeitos graves sobre a
saúde, como a doença de Alzheimer. As concentrações de arsênio encontradas
na poeira de Paracatu (32-2980 ppm) estão aumentadas de mais de 4 a mais de
400 vezes esse valor, sendo que os efeitos danosos crescem em
proporção exponencial com a dose.

A dose da lei

Não há dose segura para substância cancerígena como o arsênio; os limites
legais de segurança são fixados meramente em função da capacidade de
detecção dos laboratórios. Graças aos avanços na tecnologias de detecção e
análise, o limite de detecção de arsênio aumentou muito nos últimos anos,
mas a legislação não acompanhou esse avanço.

Apenas uma parte de arsênio por bilhão de partes de água potável (1 ppb)
durante um longo tempo de exposição já constitui um risco para a saúde e o
ambiente. No entanto, muitos países ainda adotam 10 partes por bilhão (10
ppb ou 10 microgramas / litro) como a concentração máxima permitida por lei.

Menos de 10 partes de arsênio por milhão de partes de solo (<10 ppm ou <10
mg / kg) estão associadas com prevalência e mortalidade da doença de
Alzheimer e outras demências. No entanto, muitos países ainda adotam
concentrações máximas variando de 10 a 100 ppm.

O corpo humano absorve arsênio principalmente por ingestão e inalação. As
vítimas não percebem isso, pois o arsênio é inodoro, insípido e incolor. A
dose de exposição é a exposição cumulativa por todas as rotas.

Doenças já são visíveis

As doenças mais graves associadas ao arsênio, como doenças cardiovasculares,
câncer, diabetes e doença de Alzheimer normalmente têm um longo período de
latência, de modo que as vítimas do envenenamento podem permanecer
assintomáticas por muitos anos.

Entretanto, os primeiros sinais e sintomas do envenenamento crônico por
arsênio já podem ser observados em Paracatu: manchas de pele, tosse crônica,
doenças respiratórias, hipertensão arterial, doença renal, resistência
diminuída às infecções e indisposição geral.

As doenças crônicas causadas por arsênio causam sofrimentos e enorme carga
econômica para as famílias e para o município.

Responsabilidade civil e criminal

A mineração de ouro a céu aberto em Paracatu foi iniciada em 1987, pela Rio
Paracatu Mineração SA, uma empresa com participação do grupo Rio Tinto e
Eike Batista. Em 2006, a RPM foi adquirida pela transnacional canadense
Kinross Gold Corporation.

Desde 2007, a Kinross e os órgãos do governo encarregados do licenciamento
da mineração de ouro vêm sendo advertidos dos riscos para a saúde da
continuidade da mineração em Paracatu. Em vez de encerrar a mineração, o
governo preferiu autorizar a sua expansão para mais 30 anos. Durante esse
período, serão liberadas 1 milhão de toneladas de arsênio a partir do
minério triturado. O processo de licenciamento, concluído em agosto de 2009,
está sob investigação do Ministério Público do Estado de Minas Gerais, com
suspeita de corrupção.

A Kinross e o município de Paracatu foram intimados essa semana no bojo da
Ação Civil Pública de Prevenção e Precaução proposta em Setembro de 2009
pela Fundação Acangaú.

Baseada em estudos conduzidos pela Environmental Protection Agency (EPA),
agência de proteção ambiental dos Estados Unidos, a Fundação Acangaú estimou
os danos à saúde de 10% da população de Paracatu em mais de 37 bilhões de
reais, valor superior ao faturamento bruto da mina de Paracatu nos próximos
30 anos de operação.

Poluir e matar nunca foi tão fácil e lucrativo

Impulsionadas pela alta mundial do ouro e pela baixa taxação do metal no
Brasil, dezenas de mineradoras transnacionais, a maioria delas canadenses
espalharam-se pelo território brasileiro, contando com o apoio de
autoridades governamentais brasileiras e canadenses.

A Kinross Gold Corporation é sediada em Toronto, no Canadá. A empresa
autoriza “pagamentos facilitadores" a membros dos governos dos países onde
ela atua, visando "facilitar seus negócios". Relatório independente implicou
o presidente da empresa, Tye Burt, ex-funcionário do Deutsche Bank, em
operações financeiras fraudulentas. A mina de ouro de Paracatu é a maior
mina da Kinross no mundo e também a mina de mais baixos teores de ouro e
mais alta liberação de arsênio.

Os canadenses estão rindo à toa com a facilidade de ganhar dinheiro com a
mina de ouro em que se transformou o Brasil. Para Greg McKnight,
vice-presidente da mineradora canadense Yamana Gold, "o Brasil tem uma
excelente infraestrutura, os custos da mineração são baixos e o processo de
licenciamento é simples."

Campanha mundial

O mundo inteiro está despertando para os danos persistentes à saúde e ao
ambiente causados pela mineracao de ouro em grande escala. Esse ano, o
Parlamento Europeu aprovou resolução para proibição total do uso de cianeto
na mineração a partir de 2011.

O número de publicações científicas sobre intoxicação crônica por arsênio
cresce exponencialmente, comprovando as suspeitas de que mesmo em baixos
níveis de poluição ambiental por arsênio o organismo humano é afetado
por doenças de alto impacto biológico e sócio-econômico, como diabetes,
hipertensão, doença cerebrovascular, câncer, doença renal e doenças
neurodegenerativas, entre outras.

Uma campanha global para banir a mineração em rocha arsenopirita e fazer as
mineradoras pagarem pelas perdas e danos que causam está sendo iniciada pela
Fundação Acangaú, Instituto Serrano Neves e Instituto Medawar, juntamente
com diversas outras organizações nacionais e internacionais, incluindo
Rettet den Regenwald (Salve a Selva), Mining Watch Canada, Society for
Threatened Peoples (Gesellschaft für bedrohte Völker - GfbV) e a Associação
pelas Serras e Águas de Minas.

7 comentários:

  1. Amigos, a iniciativa de vcs é excelente, mas precisamos fazer algo a mais para acabarmos com isso. Estao destruindo a nossa cidade. Sou uma jovem de 17 anos, estou disposta a ajudar no que for preciso, quero estar junto com vcs. Meu email para contato: aninhatcaldas13@hotmail.com
    Vamos lutar!

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  2. Prezada Ana Luiza, você pode colaborar divulgando as informações junto aos jovens de sua idade, que serão os mais afetados. Use os meios de comunicação que puder: email, twitter, conversas etc. Cobre dos mais velhos que tomem providências pois o problema é sério.

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  3. ola,sou jornalista por formaçao,residi 13 anos(londres e istanbul) fora do brasil ,minha familia mora ha 22 anos em paracatu ,sempre que retorno ao brasil ,fico em paracatu e confesso-lhe que estou perplexa com o crescimento da mineradora ,e com a sua proximidade da cidade ,e me preocupo com o risco dessas familias e ate mesmo da minha familia,estou no brasil no momento e gostaria de obter informaçoes sobre o risco que corremos. obrigada
    fabiana ceyhan

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  4. vou ligar para rede globo para que façam uma matéria a respeito deste descaso com a população de paracatu . será a minha parte de contribuição para essa tragédia anunciada .

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  5. Eu,João Roberto Machado,sugiro q fundamos uma associação de proteção ao meio ambiente de Paracatu com relação as mineradoras de Paratu.O nome da associação podera ser discuntido em assembleia com a comunidade de Paracatu.A intenção sera de não acabar com as mineradoras q vem prejudicando a comunidade,mas fazela com que elas cumpra o seu papel de exploração com responsabilidade.
    Se precisar da minha colaboração entre em contato com o meu e-mail(joaoroberto_machado@yahoo.com).

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  6. Prezado Joao Roberto,
    no mundo inteiro não conheço sequer um exemplo de "mineração responsável" de ouro em rocha arsenopirita. Esse tipo de rocha foi formado entre centenas de milhões de anos e bilhões de anos, numa época da história natural do planeta Terra em que ainda não existiam organismos complexos como nós seres humanos. A mineração libera o arsênio cimentado nessas rochas para a atmosfera, os solos e as águas subterrâneas e superficiais, onde o arsênio permanece ativo por séculos e talvez mesmo milênios. As plantas, os animais e os seres humanos absorvemos esse arsênio que causa sérios problemas à saúde, conforme exaustivamente descrito em vários artigos desse blog. Os custos de remediação são superiores ao valor do ouro retirado, então como é possível uma "mineração responsável" em rocha arsenopirita? A única postura responsável é a "não mineração". Se você está disposto a colaborar, então colabore como voluntário da Fundação Acangaú, divulgando as informações desse blog, acompanhando as Ações Civis Públicas movidas pela Fundação contra a mineradora Kinross e a Prefeitura de Paracatu, e organizando as vítimas da intoxicação crônica para que lutem por seus direitos de receber todos os cuidados de proteção à sua saúde, exames clínicos-laboratoriais e epidemiológicos, ressarcimento de perdas e danos, etc.

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  7. Sou João Roberto,e trabalhei na RPM,HOJE kINRROS,O Funcionário que tinha uma porcentagem de xumbo a mais tinha que ficar afastado de sua àrea de trabalho até o teor ficar pelo menos no permitido para retornar a sua àrea.A roupa do operador que limpava o exaustor da fundição que continha arsenio era queimada por tamanho perigo.Os funcionários do laboratório quimico era o que mais concentrava xumbo no sangue.A àrea da hidro metalurgia,em que eu era segurança,de vez enquando tinhamos que acionar o alarme continuo pra retirada dos funcionários do laboratório quimico e hidro devido o vazamento de gases do tangue de cianeto e de gases do tangue de metanol ambos existente dentro da hidro.Hoje não sei se continua a mesma coisa.A REDE GLOBO já deveria ter vindo a Paracatu.Nós Paracatuense precisamos acordar pra realidade e apoiar o Digníssimo Sr.Sergio DANI,E O Sr.Serrano,pra tentar salvar não só Paracatu,mais os nossos filhos.Estou muito emocionado em poder falar neste Alerta Paracatu e pro mundo inteiro que acessa este SITE.
    Obrigado.

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