Rezem Por Mim. por Adriles Ulhoa Filho
Um passeio com Maiakovisky
Na primeira noite
eles se aproximam
e colhem uma flor de nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite,
já não se escondem :
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles,
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a lua, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz
E porque não dissemos nada,
já não podemos dizer nada.
Como Maiakovisky
Primeiro, mataram índios indolentes - primitivos donos das terras - por recusarem colaborar.
Depois, levaram o ouro de aluvião que brilhava no leito do córrego.
Eu nada pude fazer, pois nem sonhava nascer.
Mais tarde, trouxeram escravos para escarafunchar o morro.
Nada fiz mais uma vez, esperava a hora de ser.
Por certo tempo – eu já aqui - não mexeram em quase nada.
Não por algum respeito! Talvez uma trégua; um rearranjo da ambição.
Mas a aldeia calma não podia continuar sendo um Shangri-lá.
Começaram a falar em progresso.
A primeira providência foi destruir o teatro.
Então eu fui embora. Fui aprender a entender.
E continuou o progresso destruindo: casas, sobrados e ruas.
Arrancando pedras e mutilando becos.
Pondo o moderno no lugar.
Eu inerte como um coió!
Certo dia, achei demais! Basta, basta! Bati de frente.
Falei, escrevi e gritei! Gritei para o Mundo escutar:
Será que até nosso morro vão agora nos levar?
Só restará um buraco pra nossa tristeza enterrar?
Para esconder nossa inércia e a vergonha do nosso silêncio?
Avante, paracatuenses! Avante, precisamos agir.
Antes que acabe o morro
e fique só o
Rezem Por Mim.
Adriles Ulhoa Filho
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