terça-feira, 29 de julho de 2008
Arsênio e chumbo são liberados a partir de fertilizante popular
Algumas mineradoras, tentando se livrar dos resíduos da mineração e obter lucros, vendem estes resíduos como adubos para a agricultura. Um artigo publicado na revista Environmental Science and Technology mostra que quantidades suficientemente grandes de arsênio e chumbo são liberadas a partir de um fertilizante amplamente usado nos Estados Unidos, ironita, a ponto de fazer com que esse produto seja considerado um rejeito perigoso para a saúde e o meio ambiente.
Os resultados deste estudo, realizado por Bradjesh Dubey e Timothy Townsend, da Universidade da Flórida em Gainesville, oferecem evidência crucial para uma avaliação de risco feita pela U.S. EPA (Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos) que poderá levar ao banimento ou restrições a este tipo de produto, em nível nacional.
Os manufaturadores da ironita, Ironite Products Co. em Scottsdale, Arizona, afirmaram que seu produto é seguro porque o chumbo e o arsênio que eles contêm não são biodisponíveis. Um relatório técnico comissionado pela companhia indica que estes metais estão presentes no fertilizante como os minerais galena e arsenopirita e que os elementos nestas formas são “muito estáveis no meio ambiente e não biodisponíveis numa forma que é tóxica.”
Mas, os resultados de Dubey e Townsend refutam este argumento. “Nossos resultados mostram que quando a ironita é aplicada sob condições muito comuns, levemente acídicas, os metais pesados realmente são liberados. Nós também mostramos que certa proporção de chumbo e arsênio é biodisponível se a ironita for consumida por uma criança”, disse Townsend, que é um engenheiro de rejeitos.
Veja o artigo original, em inglês (original article):
Science News - September 22, 2004
Arsenic and lead leach out of popular fertilizer
Ironite, a widely available commercial and home plant fertilizer, releases enough lead and arsenic in standard leaching tests to be classified as a hazardous waste. The fertilizer’s heavy metals also appear to be bioavailable, according to the results of some of the first independently conducted standard leachability tests, which were published recently on ES&T’s Research ASAP site (ES0493392). These results provide crucial evidence for an ongoing risk assessment by the U.S. EPA that could lead to nationwide bans or restrictions on such products, according to EPA officials involved with the assessment.
Ironite is produced from the tailings of a former mine, now a proposed Superfund site, in Humboldt, Ariz. The fertilizer—a mixture of mine tailings, sulfuric acid, and urea—is popular with gardeners in the United States because the iron in the mine tailings greens up lawns and plants without promoting heavy growth, according to gardening specialists. A federal exemption allows mine-derived wastes to be sold as fertilizers, and fertilizer producers are only required to list nutrients on the labels of their products. As a result, gardeners using Ironite and other waste-derived fertilizers are not informed about potentially hazardous ingredients.
Several other studies have highlighted Ironite’s exceedingly high concentrations of heavy metals—up to 3600 milligrams of arsenic per kilogram of fertilizer (mg/kg) and up to 2900 mg/kg of lead. Bradjesh Dubey and Timothy Townsend of the University of Florida in Gainesville break new ground by presenting the leaching and bioavailability data.
Ironite’s manufacturer, Ironite Products Co. in Scottsdale, Ariz., has maintained that its products are safe because the lead and arsenic they contain are not bioavailable. A technical report commissioned by the company indicates that these metals are present in the fertilizer as the minerals galena and arsenopyrite and that the elements in these forms are “very stable in the environment and not available in a form which is toxic.”
But Dubey and Townsend’s results refute this claim. “Our results show that when Ironite is land-applied under very common, slightly acidic conditions, the heavy metals do leach out. We’ve also showed that some proportion of the lead and arsenic is bioavailable if the Ironite’s consumed” by a child, says Townsend, who is a waste engineer.
Bioavailability is one of the main aspects of EPA’s assessment, says an anonymous agency official. “The ES&T study is very valuable to us because it confirms and expands on some other evidence we have about the bioavailability of heavy metals in Ironite.”
Townsend and Dubey bought Ironite at several local stores and conducted leaching experiments following standard protocols. In addition, they evaluated the fertilizers for bioavailability using a test designed to simulate the gastric fluid in a child’s digestive system.
Both lead and arsenic showed leaching behavior that varied by pH, with the highest amounts released under low- or high-pH conditions. The fertilizer itself is acidic, so leaching in water will result in high lead and arsenic concentrations in the leachate.
The fertilizer issue dates back to 1997, when an investigation by The Seattle Times created an uproar among environmental groups and state regulators by revealing that a number of fertilizers used by farmers and consumers contained high levels of lead, arsenic, and other heavy metals. Ironite contains the highest amounts of arsenic of all fertilizers tested by EPA as part of a preliminary risk assessment.
The presence of these trace metals has led some state governments, including those of Washington and Minnesota, to investigate potential safety and environmental concerns associated with Ironite, and EPA is soon to finish its two-year-long risk assessment.
Canada limits toxic metals in fertilizers, and Washington, California, Texas, and Minnesota are among the U.S. states that set limits. U.S. federal law requires that all hazardous waste be properly disposed of in regulated landfills. But Congress exempted mining-industry wastes from hazardous landfill disposal laws by means of a 1980 loophole called the Bevill Exemption, which allows mining companies to dispose of waste by turning it into a useful product—in this case, fertilizer. —REBECCA RENNER
Fonte: Environmental Science and Technology online. http://pubs.acs.org/subscribe/journals/esthag-w/2004/sep/science/rr_arsenic.html
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terça-feira, 22 de julho de 2008
A insustentável leveza da poeira venenosa, artigo de Serrano Neves
A insustentável leveza da poeira venenosa, artigo de Serrano Neves
[EcoDebate] Os problemas criados pela mineração em Paracatu (RPM/Kinross), enfim, alcançaram a grande mídia através de reportagem de O Estado de Minas do dia (13 de julho, pág. 21), e a peneira com que tampavam o Sol caiu.
O tremendo impacto sócio-ambiental vinha sendo disfarçado pela poeira do desenvolvimento, do emprego e da renda, estratégia dirigida pela RPM/Kinross que posa de “mãe de Paracatu” divulgando números sobre benefícios sociais e maquiagem ambiental, em flagrante desrespeito à inteligência dos paracatuenses. Poeira do desenvolvimento, a mesma poeira de rocha arseniopirita que tolda o ar espalhando veneno sobre as pessoas e sobre o meio-ambiente.
A parte da cidade mais atingida é a periferia invadida pela população de baixa renda, sobre a qual a poeira que cai é tão intensa que sobre os móveis esbranquiçados é possível escrever claramente a palavra MORTE.
Mal sabem os políticos e os poderosos que são beneficiados pela bolha econômica que partículas invisíveis a olho nú estão sendo respiradas e os males dos pulmões e dos rins os atingirão igualmente, bastando o tempo correr, isto é, se já não foram atingidos pelo arsênio e outros metais pesados.
A RPM/Kinros avalia que se trata de uma população ignorante, incapaz de obter informação de boa qualidade sobre os males causados pela mineração a céu aberto em rocha arseniopirita.
Tal modalidade causa severos danos à saúde humana no mundo inteiro.
As informações estão reunidas no ALERTA PARACATU (http://alertaparacatu.blogspot.com/ ), inclusive laudos técnicos sobre contaminação da água subterrânea em propriedade sobre a qual se dá notícia de que a RPM/Kinross adquiriu com sobre-preço.
Os órgãos governamentais competentes para cuidar da saúde humana e do meio-ambiente não definem se exercerão suas atribuições ou se darão espaço para o desenvolvimento econômico às custas do sacrifício humano, ou são lentos demais para cuidar de um problema que começou fazem 20 anos com a mesma configuração de hoje.
Difícil entender que as providências oficiais só serão tomadas quando as pessoas começarem a cair mortas no meio da rua.
A boa (!) providência do poder público municipal foi a instalação de um centro de hemodiálise, ou seja, o capital predador dana a saúde renal e o governo municipal - beneficiário da bolha econômica - trata os doentes até que ganhem um novo rim para envenenar ou até que morram.
A providência que não quiseram tomar - mas foram requeridos a fazer - é o levantamento epidemiológico de envenamento crônico por arsênio e outros metais pesados.
As autoridades municipais não se movem nem para proteger a economia local, vez que a produção de leite, carne e hortifrutigranjeiros pode estar contaminada e contaminando as pessoas dos lugares para onde são exportadas, inclusive Brasília.
Apenas pedem para “calar a boca” pois a divulgação pode compromente a economia, mas não fazem as análises necessárias para proteger a economia e principalmente a saúde humana.
As entidades envolvidas no processo de proteção querem a proteção da saúde humana que afirmam, com base no princípio da verossimilhança fática, estar sendo afetada pela contaminação advinda da mineração da RPM/Kinross.
As entidades estão trabalhando na divulgação das informações enquanto esperam que o Ministério Público local conclua o Inquérito Civil Público e entre com a ação.
As autoridades locais (atuais e candidatas) estão perdendo a chance de fazerem o dever de casa, mas estejam certas de que se não o fizerem o Judiciário o fará, e se o Judiciário não fizer - duvidamos que não faça - as doenças e mortes atribuidas ao arsênio e outros metais pesados lhes serão atribuídas por omissão.
(*) Serrano Neves é Procurador de Justiça Criminal em Goiás, Presidente do Instituto Serrano Neves e membro do Conselho Curador da Fundação Acangaú
[EcoDebate, 22/07/2008]
segunda-feira, 21 de julho de 2008
Grande mídia revela RPM/KinRoss
Reportagem de O Estado de Minas revela situação da mineração da RPM/KinRoss em Paracatu.
É possível que agora parem de tapar o sol com a peneira e entendam que a saúde do povo de Paracatu precisa ser monitorada através de levantamento epidemiológico de envenenamento crônico por arsênio e outros metais pesados.
Leia em: Paracatu_01 Paracatu 02 Paracatu 03
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