Parece não haver outra esperança que não sejam o espírito
solidário e a mobilização popular
14/10/2011
Ruben Siqueira*
Pode-se resumir nesta ideia a consciência coletiva
explicitada por cerca de 2500 pessoas de Campo Alegre de Lourdes, norte da
Bahia – 10% da população do município – ao caminharem dois quilômetros em
Romaria de protesto contra a mineração. Sob a poeira e o sol do meio-dia, em meio
à caatinga seca de setembro, foram até quase o sopé do morro Tuiuiu.
Cartão-postal do município, o morro tem minérios valiosos como titânio e
vanádio. Pelas pesquisas, 82% do território do município estão sob alvo de
mineradoras. O povo, assustado, não assiste acuado.
A Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM) tem alvarás de
pesquisa para 4.259,94 hectares, em 11 morros na região, estimados em 134 milhões
de toneladas de minério. A exploração pela canadense Largo está calculada em
64,13 milhões de reais.
São informações do dossiê Mineração na região de Juazeiro –
avanços, impactos e resistência das comunidades rurais, de julho de 2009, feito
pela Comissão Pastoral da Terra daquela diocese, com base em dados secundários
e pesquisa direta. Quase todos os municípios da região enfrentam ou estão na
mira de mineradoras, que se impõem avassaladoras, por sobre áreas de produção
alimentar, territórios tradicionais, águas, matas e morros preservados.
Em toda a Bahia, como em todo o país, expandem-se as
mineradoras com apoio e incentivo do Estado. Conflitos em ato ou iminentes com moradores,
lavradores, criadores, comunidades tradicionais, com o meio- ambiente e com a
consciência e a vontade da maioria da população, sempre desprezados nestas
ocasiões. As seduções de empregos, comércio, royalties para o erário municipal
nem de longe compensam os lucros exportados e as degradações deixadas. Não
faltam comprovações disso. No próprio município, no distrito de Angico dos
Dias, a mineração de fosfato pela Galvani lança poeira tóxica sobre o povoado,
causando doença e morte.
Como um manto opaco sobre tudo, as mentiras do discurso desenvolvimentista,
pseudo-sustentável, progresso a qualquer custo, fundado no dogma do crescimento
econômico, por aqui ainda absoluto, apesar dos estertores do neoliberalismo
mundo afora. Lembra o período da Ditadura Militar...
É certo que continuamos a precisar de produtos minerários, siderúrgicos,
mas não será algo limitado e sem
controle. É certo também que a destruição é para sempre. Então, quais limites e
controles? Quem decide sobre eles? Interessam aos poderosos somente as oportunidades
lucrativas, que são apenas o que veem nas demandas crescentes por minérios no
mercado global, reprimarizando nossa economia. Quais outros interesses são
levados em conta? O novo marco regulatório da mineração não pode se dar afeito
apenas a empresários e ao Estado a eles servil.
O final da Romaria se deu numa área que já foi objeto de
grilagem, há quase 30 anos, e esbarrou na resistência vitoriosa dos moradores, muitos
ali presentes. Numa clareira aberta em ligeiro declive, celebrou-se a missa,
seguida de depoimentos, poesias e uma dança ecológica executada por
adolescentes. As pessoas se aglomeravam sob fiapos de sombras das árvores
desfolhadas ou compartilhavam acolhedores guarda-sóis e sombrinhas. Faixas e
cartazes com dizeres em defesa da natureza, da terra e do povo, canções
religiosas em defesa da vida. Ao fundo, soberano, o belo Tuiuiu se impunha
sobre a sequidão.
O Estado, à exceção de setores do Ministério Público, já
mostrou de que lado está, ao bancar o setor e flexibilizar a área ambiental dos
governos. Parece não haver outra esperança que não sejam o espírito solidário e
a mobilização popular, como fizeram os romeiros de Campo Alegre de Lourdes.
Serão fortes o suficiente para forçar o Estado a não ceder às explorações?
Cedendo, ao menos condicioná-las, submetê- las a rígidas salvaguardas e
controles pela cidadania organizada e atenta? Encarecida, quem sabe, acabasse
por valer menos a exploração mineral do que a vida que ela custaria.
http://www.brasildefato.com.br/content/vale-menos-o-min%C3%A9rio-do-que-vida
é amigo, a briga é dura... aqui em minas começam os rumores de mineradora chegando em nosso arraial...
ResponderExcluirdificil saber o que fazer.
em solidariedade,
Diogo