Ouro, Carvão e Petróleo: Uma crise regulatória e de saúde de grande magnitude
Enquanto as concentrações máximas de arsênio permitidas nos solos de
países como Canadá e Alemanha giram em torno de 5-50 miligramas por
quilo, em alguns locais contaminados pela mineração de ouro, como
Paracatu e Nova Lima, no Brasil, e em Bangladesh e Índia Ocidental a
quantidade pode chegar a vários gramas de arsênio por quilo de solo,
ou seja, concentrações mil vezes maiores que as recomendadas
internacionalmente.
A mina de ouro de Paracatu é uma das maiores do mundo e a que produz
mais arsênio por tonelada de ouro; a mina de Nova Lima é a mais
antiga. Existem milhares de minas e projetos de minas em todo o mundo
e os minérios de ouro contendo arsênio são os mais abundantes. Pelos
cálculos de Sergio Dani, médico e pesquisador do Instituto Medawar e
autor de um estudo publicado pela revista Medical Hypotheses (Gold,
Coal and Oil, Medical Hypotheses, doi:10.1016/j.mehy.2009.09.047),
somente as minas de ouro têm o potencial de produzir algo entre 10 e
100 kg de arsênio para cada habitante do planeta. Uma vez liberado
para o ar, o solo e as águas, o arsênio permanece livre por centenas
ou milhares de anos e circula pela biosfera de formas ainda pouco
compreendidas.
Entre os efeitos ainda pouco compreendidos do arsênio, Sergio Dani
investiga a doença de Alzheimer e diversas formas de retardo mental
causadas pela diminuição do tamanho do cérebro humano e
consequentemente o declínio da inteligência das populações
cronicamente expostas ao veneno. “Há indicações preliminares de que
doenças neurodegenerativas também possam ser causadas ou agravadas
pela exposição crônica ao arsênio em concentrações que já são comuns e
estão aumentando em várias partes do mundo” – alerta Dani.
Uma vez que as medidas de controle propostas pelas mineradoras não são
capazes de proteger os seres humanos e outros organismos sensíveis e a
descontaminação dos solos e das águas superficiais e subterrâneas é
economicamente inviável, cientistas de todo o mundo acreditam que a
única medida eficiente de proteção é garantir o acesso ao ar, solos e
água não contaminados, bens que estão se tornando mais escassos a cada
dia e a cada mina.
A publicação do estudo pela Medical Hypotheses chama a atenção para a
necessidade do banimento da mineração em rochas duras contendo arsênio
e o estabelecimento de medidas reparatórias e de controle. Se o
argumento humanitário não convencer, ainda existe uma razão menos
forte, mas talvez mais convincente: os custos sócio-econômicos e
ambientais da contaminação por arsênio superam os valores econômicos
das minas de ouro como a de Paracatu, tornando-as economicamente
inviáveis.
Fonte: Instituto Medawar de Pesquisas Médicas e Ambientais/Fundação
Acangaú, 31 de outubro de 2009
Saiba mais:
alertaparacatu.blogspot.com
sosarsenic.blogspot.com
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