11 de Dezembro de 2008
Vovó RPM-Kinross é o lobo!
Sergio Ulhoa Dani (*)
“Vovó, vovozinha, por que essa boca tão grande?” – Perguntou a perplexa Chapeuzinho Vermelho ao falso e malicioso lobo. Ao que o lobo, disfarçado de vovozinha, responde: – “É pra te comer melhor, minha netinha!” Neste momento, a Chapeuzinho foge gritando a plenos pulmões, com o lobo a persegui-la de perto: – “É o lobo! É o lobo!”
A versão de Charles Perrault para o conto camponês sobre a menina do capuz vermelho é bem conhecida de todos. Uma versão menos conhecida foi descoberta em Paracatu, a imemorial cidade do noroeste de Minas Gerais, pela mineradora transnacional canadense, RPM-Kinross. Na versão de Perrault, o vilão é lobo, que devora a vovozinha, e ainda quer devorar a netinha. Na versão de Paracatu, é a mineradora transnacional que come a cidade, de colher, pelas beiradas, e ainda quer devorar as criancinhas.
Preocupada em melhorar sua imagem, assim como o lobo disfarçado de vovozinha, a mineradora está sempre a inventar disfarces que atenuem a sua aparência horripilante, de devoradora da cidade: a reforma de uma pracinha, a esmola para camponeses desamparados, o mimo para vizinhos aborrecidos, uma ajuda para a Polícia Militar, o afago para um juiz, a contribuição para as campanhas do prefeito. Agora a mineradora se superou, e encarnou de vez a vovozinha. Vovó RPM-Kinross está patrocinando uma festinha para as criancinhas do bairro vizinho à área de lavra a céu aberto. É o lobo! É o lobo!
A RPM-Kinross age como o lobo bobão, que não percebe que maquiagens são efêmeras, que mentiras têm pernas curtas, e que as crianças de hoje não são tão ingênuas como as de antigamente. Para mudar sua imagem horripilante, a única saída é encarar e assumir, honestamente, os danos horríveis que causa à cidade e ao povo de Paracatu. E corrigir esses danos, antes que venha o caçador.
(*) Médico e cientista, presidente da Fundação Acangaú e do Instituto Medawar de Medicina Ambiental.
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