Paracatu, 21 de maio de 2008
Contaminação é de gravidade extrema
Nesta entrevista concedida ao ALERTA PARACATU, Giovani Melo (**), químico responsável pelas análises que indicaram contaminação com metais pesados das águas de Paracatu pela RPM-Kinross confirma gravidade extrema da contaminação.
ALERTA PARACATU - O gerente-geral da mineradora RPM-Kinross questionou a veracidade dos resultados apresentados pelo LABIOTEC, que indicam concentrações acima do permitido pela legislação para chumbo, cádmio, mercúrio e cianeto nas águas da barragem de rejeitos da RPM, no brejo abaixo da barragem e numa cisterna na região do Ribeirão Santa Rita. O que o senhor tem a dizer?
Giovani Melo: “Os crimes ambientais nunca foram admitidos pelo causador dos delitos, mas aos poucos deverão ser admitidos, uma vez que os fatos se traduzem em doenças humanas e comprometimento de plantas e animais do local. Os resultados de laboratórios só representam consistência quando monitorados semanalmente, permitindo o acompanhamento da ação natural das chuvas e das infiltrações, propiciando o entendimento da evolução da contaminação, a elaboração de gráficos de diversos setores e piezômetros instalados no local. A veracidade das análises realizadas nas amostras enviadas pelos pais e tios da nossa funcionária Zenaide Carvalho (**) é consistente com a alta carga de enfermidades que os acometem, bem semelhante aos relatos bibliográficos de intoxicações químicas. Em visita ao local, nós nos deparamos com alguns piezômetros instalados pela empresa em profundidades e direções questionáveis, o que pode mascarar os resultados do auto-monitoramento feito pela RPM-Kinross.”
ALERTA PARACATU – Um técnico da mineradora deu a entender que teria havido alguma irregularidade na coleta das amostras. Isso procede?
Giovani Melo: “Não procede, pois a garrafa PET utilizada na coleta e transporte da água é de polietileno e não possui metais. Nosso laboratório vem monitorando há algum tempo a água das cisternas analisadas e os resultados em vasilhames analíticos não foram diferentes daqueles já publicados pelo ALERTA PARACATU. As concentrações detectadas pelas análises são pequenas se comparadas com os enormes volumes trabalhados na região, mas perigosas do ponto de vista clínico, pois estes agentes químicos se acumulam no organismo ao longo dos anos.”
ALERTA PARACATU – Como vocês avaliam os seus resultados e o que eles representam para o meio ambiente e a saúde da população de Paracatu?
Giovani Melo: “Gravidade extrema, pois as contaminações por metais pesados provocam cegueira, destruição do sistema imunológico, destruição do sistema nervoso central e outras afecções, sempre que há exposição do ser humano aos locais e águas atingidas. Recomendamos que a mineradora faça a conscientização dos riscos para a população do entorno da mina, distribuindo água potável gratuita aos habitantes ribeirinhos e exames clínicos. Estas são as medidas imediatas que deverão ser tomadas com vistas a iniciar o processo de recuperação do passivo já instalado no local, principalmente junto às famílias que estão abaixo da barragem, que são diretamente atingidas pela movimentação do lençol freático contaminado. As amostras e resultados deverão conter os ítens analíticos da Portaria 518 da ANVISA, em pelo menos 10 pontos a jusante do empreendimento, com publicação no jornal local da cidade. As amostras devem ser colhidas em triplicatas e enviadas para pelo menos três laboratórios credenciados e imparciais.”
ALERTA PARACATU – O projeto de expansão da RPM-Kinross prevê o aprofundamento da mina e a construção de uma segunda barragem de rejeitos. Como você avalia esses riscos?
Giovani Melo: “As perfurações em grandes profundidades interferem no lençol freático, destruindo a capacidade de produção agrícola e iniciando processo de desertificação da área.”
(*) Giovani Melo é químico, físico e biólogo, especialista em química pura pela Universidade Católica de Minas Gerais, Mestre em Química Analítica, Doutorando em Química Ambiental, Especialista em Engenharia de Segurança, Professor de Química Analítica e Instrumental e responsável técnico do Laboratório LABIOTEC, de Uberlândia-MG.
(**) Zenaide Carvalho é técnica em química e bióloga.
A RPM ta conseguindo acabar com a saúde da população de Paracatu aos poucos....
ResponderExcluirDaqui uns anos vai morrer todo mundo e Paracatu vai se transformar em uma cidade fantasma.