Qual é o seu risco de morrer de câncer por causa da poeira e dos gases que a Kinross e os amigos da Kinross obrigam você a respirar todo dia em Paracatu?
Por Sergio Ulhoa Dani, de Göttingen, Alemanha, 26 de outubro de 2009
Uma resposta exata para esta pergunta deve levar em conta uma série de
fatores, como sua idade, seu tempo de exposição ao risco, a distância
do local onde você mora até a mina a céu aberto da Kinross Gold
Corporation (KGC), seu estado nutricional, hábitos alimentares e de
higiene, etc.
O que se pode dizer de maneira geral é que o seu risco de um habitante
de Paracatu morrer de câncer está bastante aumentado. A mineração de
ouro a céu aberto em Paracatu libera um poderoso veneno para o meio
ambiente. Esse veneno chama-se arsênio e a exposição continuada ao
arsênio resulta nos mais altos aumentos de mortalidade atribuíveis a
qualquer exposição ambiental já conhecida.
Uma estimativa que fizemos a partir de dados da concentração de
arsênio na poeira informados pela própria mineradora é que as pessoas
em Paracatu respiram 10 vezes mais arsênio por dia do que a dose
máxima tolerável segundo os padrões provisórios da Organização Mundial
de Saúde [1,2,3].
O Professor Alan Smith da Universidade da Califórnia em Berkeley,
Estados Unidos, fez o seguinte cálculo para o risco de uma pessoa
morrer de câncer por causa da ingestão crônica de arsênio dissolvido
na água:
Aumento do risco de morrer de câncer para cada aumento da concentração
de arsênio na água de beber [4]
. 10 ug/L – morre 1 de cada 500 pessoas expostas
. 50 ug/L – morre 1 de cada 100 pessoas expostas [situação de risco
semelhante à da exposição do fumante à fumaça de cigarro que também
contém arsênio e outros compostos cancerígenos]
. 500 ug/L – morre 1 de cada 10 pessoas expostas [Semelhante ao risco
que o(a) fumante passivo(a) corre]
. 5000 ug/L – morrem todos de câncer
Para que você possa compreender melhor essas relações, saiba que 1
ug/L (1 micrograma de arsênio por litro de água) corresponde a uma
parte de arsênio por bilhão de partes de água, ou seja, 1 ppb (uma
parte por bilhão). Os dados da própria Kinross dão conta que você,
cidadão paracatuense, está exposto em média a 68 mg de arsênio “marca
KGC” por ano. São 67777 microgramas de arsênio por habitante/ano,
equivalente a 183 microgramas/habitante/dia.
Isso significa que a Kinross já está matando gente aos montes em
Paracatu, pelo menos a partir de quando podemos analisar esses riscos.
Os dados de arsênio na poeira fugitiva da mina da KGC foram divulgados
pela mineradora para o público somente entre os anos de 2001 e 2003.
Depois que iniciou o seu plano de expansão III, a empresa não divulga
mais esses dados. Em uma audiência pública realizada em 2008, a
empresa chegou a negar que havia arsênio na poeira da mina. E durante
o processo de licenciamento do plano de expansão da mina, conseguiu
esconder 1 milhão de toneladas de arsênio dos relatórios de
licenciamento.
Como o plano de expansão da mineração de ouro da Kinross em Paracatu
prevê o aumento de três vezes da movimentação de minério na mina a céu
aberto no Morro do Ouro, acreditamos que a quantidade de poeira e de
arsênio vão aumentar três vezes, e o seu risco de morrer de câncer
também deverá aumentar ainda mais. Trata-se provavelmente do maior
genocídio da história da mineração de ouro no mundo.
Você certamente percebe a poeira que incomoda, mas talvez não perceba
o arsênio, porque arsênio na água e no ar é invisível, não tem cheiro
nem gosto. Então os riscos são inacreditáveis para a maioria das
pessoas!
No mundo inteiro cientistas estão estudando os efeitos da exposição
crônica ao arsênio. O Instituto Medawar, da Fundação Acangaú, também
participa desses estudos. A Fundação Acangaú também entrou com uma
Ação Civil Pública na comarca de Paracatu, baseada no princípio da
precaução e da prevenção dos riscos. Consulte os blogs
www.alertaparacatu.blogspot.com e www.sosarsenic.blogspot.com para se
manter informado.
Enquanto isso, siga os conselhos de um amigo:
1 – procure seu médico;
2 – procure seu vereador;
3 – procure seu deputado;
4 - procure o promotor de justiça;
5 – procure seu advogado,
6 – não necessariamente nesta ordem.
Referências:
[1] http://alertaparacatu.blogspot.com/2009/07/arsenio-na-poeira-de-paracatu-dados.html.
[2] Veja também o gráfico da Figura 2 de
http://alertaparacatu.blogspot.com/2009/07/quando-como-e-por-que-o-arsenio-acumula.html
[3] Leia também o artigo em
http://alertaparacatu.blogspot.com/2009/07/o-seu-corpo-encardido-de-veneno.html
[4] Smith AH, Steinmaus C, Yuan Y, Liaw J, Hira-Smith MM. High
concentrations of arsenic in drinking water result in the highest
known increases in mortality attributable to any environmental
exposure. Proceedings of a Symposium: Arsenic – The Geography of a
Global Problem. Royal Geographical Society: Arsenic Conference, 29th
August 2007, apresentação disponível em:
www.geog.cam.ac.uk/research/projects/arsenic/symposium, acessada em
2009.
--
Sergio Ulhoa Dani, Dr.med., D.Sc.
Göttingen, Germany
Tel. 00(XX)49 15-226-453-423
srgdani@gmail.com
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