Pesquisa da Universidade de Indiana fornece evidência forte de aumento
de doenças e mortes causadas pela mineração a céu aberto
Michael Hendryx, pesquisador da Universidade de Indiana,
Estados Unidos da América
Foto: Mina de ouro a céu aberto da Kinross, em Paracatu,
MG
« Nosso primeiro estudo descobriu que pessoas que viviam perto de minas a céu aberto apresentaram níveis mais altos de mortalidade e doença. E essa relação persiste, mesmo quando você controla as covariaveis de que as pessoas mais falam, então não é que as pessoas nessas comunidades fumem mais, ou que as taxas são mais altas, ou as taxas de obesidade são mais altas - podemos controlar para elas e ainda vemos um efeito independente sobre uma variedade de resultados de saúde. Não só as pessoas que vivem em regiões mineradoras são menos saudáveis, mas descobrimos que, à medida que os níveis de mineração aumentam, os impactos na saúde se tornam cada vez mais pronunciados.
Descobrimos que as partículas em geral são elevadas em
comunidades de mineração em comparação com outras comunidades sem mineração.
Quando olhamos para a distribuição de tamanho dessas partículas, eles estavam principalmente
no intervalo ultra-fino, o que foi um pouco surpreendente para nós. Quando você
pensa sobre a mineração, você pensa no pó da explosão, então eu teria adivinhado
que teria sido um material mais grosso como PM 10 [particulate matter 10
micrometros], por exemplo. Na verdade, onde a diferença era maior era nas
partículas muito pequenas. Quanto menor a partícula, mais perigosas eles são peso-por-peso,
por assim dizer. Porque com partículas pequenas, quase toda ela é superfície. Então, seja qual for o material, ele entrará em
contato com o tecido biológico. Além disso, porque são tão pequenas, essas
partículas podem penetrar profundamente no tecido pulmonar e podem até mesmo
passar dos pulmões para o sistema vascular e, em seguida, ir literalmente a
qualquer lugar do corpo.
Se você olhar para a literatura principalmente da Europa - a Europa está à frente de nós sobre isso - eles estão descobrindo que particulas ultrafinas são mais preocupantes para a saúde humana do que partículas como a PM 2.5, para as quais temos padrões. Os EUA não possuem nenhum padrão para particulas ultrafinas. Mas a comunidade científica está à frente da comunidade reguladora sobre isso ao reconhecer sua ameaça.
Se você olhar para a literatura principalmente da Europa - a Europa está à frente de nós sobre isso - eles estão descobrindo que particulas ultrafinas são mais preocupantes para a saúde humana do que partículas como a PM 2.5, para as quais temos padrões. Os EUA não possuem nenhum padrão para particulas ultrafinas. Mas a comunidade científica está à frente da comunidade reguladora sobre isso ao reconhecer sua ameaça.
Foto: Michael Hendryx, pesquisador da Universidade de Indiana,
Estados Unidos da América.
O processo de
mineração também contamina literalmente bilhões de litros de água em toda a
região. Os rejeitos da mineração terminam em imenso aterros ou barragens de
rejeitos. Todos os anos, recebo mensagens de pessoas no Facebook, mostrando,
por exemplo, descargas de cor estranha que fluem por um riacho de alguém a
jusante dessas barragens de rejeitos.
Existe o
argumento que a indústria tenta fazer que esses estudos sejam meramente correlacionais.
E eles ainda tentam dizer - e eu não sei como eles insistem nisso, porque não
está correto - que as causas das doenças e das
mortes estão ligadas apenas a questões de estilo de vida como o tabagismo ou a
obesidade, mas é claro que não é assim. Quero dizer, mostramos uma e outra vez
que não são essas coisas. Portanto, de uma visão estritamente epistemológica,
ainda não destrinchamos todas as conexões, mesmo assim, existe uma correlação.
Estamos
estudando uma situação em que muitas pessoas estão morrendo e, para nós, dizer
que é apenas correlacional e, portanto, devemos continuar estudando até saber
mais, consieramos imoral neste momento.
As áreas de
mineração a céu aberto têm taxas de desemprego mais altas e mais pobreza que em
qualquer outro lugar da região, porque estas são atividades destruidoras de
trabalho, não criadoras de trabalho. Quando você compara a mineração a céu
aberto com a mineração subterrânea, a quantidade de mineral produzida por
trabalho é muito maior na mineração a céu aberto. Isso é devido ao uso de
explosivos e ao uso de maquinaria pesada que substitui o trabalho humano por
trabalho mecanizado. Portanto, essas minas podem ser enormes, mas eles requerem
poucos empregos.
Explodindo montanhas, desmatando grandes extensões de terra, criando fluxos
de poluentes, destruindo estradas de tanto transitar com caminhões, cobrindo a
paisagem com poeira, deixando as pessoas doentes - que outros empregadores vão
mudar para essa área? Se você não tiver a sorte de ter um desses empregos,
provavelmente não obterá nada, ou você talvez tenha um emprego de tempo parcial,
porque não há outras oportunidades, a base econômica foi destruída.
A percepção que as pessoas têm é que isso é uma espécie de negociação entre o meio ambiente e o trabalho, e na verdade não é - é uma negociação entre o meio ambiente e os lucros de algumas poucas pessoas.»
Fonte:
«
Our first study found that people who lived near
mountain top revomal (MTR) mining sites had higher levels of mortality and
illness. And that relationship persists even when you control for the
covariants that people talk about, so it’s not that people in those communities
smoke more, or that the poverty rates are higher, or obesity rates are higher –
we can control for those and we still see an independent effect on a variety of
health outcomes. Not only are people who live in mining regions less healthy,
but we found that as the levels of mining go up, the health impacts become
increasingly more pronounced.
We have discovered that particulate matter as a rule
is elevated in mining communities compared to other communities without mining.
When we looked at size distribution of these particles, they were mostly the
ultra-fine range, which was kind of surprising to us. When you think about
mining, you think of the dust from the blasting, so I would have guessed that
it would have been coarser material like PM [particulate matter] 10, for
example. In fact, where the difference was greater was in the very small
particles. The smaller the particle, the more dangerous they are
pound-for-pound so to speak. Because with small particles, almost all of it is
surface. So whatever the material is, it is going to come into contact with
biological tissue. Also, because they’re so small, these particles can
penetrate deeply into lung tissue and they can potentially even pass through
the lungs and into the vascular system and then go literally anywhere in the
body.
So if you look at the literature mostly from Europe — Europe’s ahead of us on this — they are finding that ultra-fines are of greater concern for human health than particles like PM 2.5, which we have standards for. The U.S. doesn’t have any standards for ultra-fines. But the scientific community is ahead of the regulatory community on this in recognizing their threat.
So if you look at the literature mostly from Europe — Europe’s ahead of us on this — they are finding that ultra-fines are of greater concern for human health than particles like PM 2.5, which we have standards for. The U.S. doesn’t have any standards for ultra-fines. But the scientific community is ahead of the regulatory community on this in recognizing their threat.
The mining process also contaminates literally
billions of gallons of water across the region. The contamination ends up in earthen-lined
slurry impoundments. Many times every year, I get messages from people on
Facebook, for example, showing strangely colored black or orange discharges
flowing down somebody’s creek downriver of these processing sites.
There is the argument that the industry tries to make
that these studies are correlational. And they still try to say — and I don’t
know how they get away with it, because it is just not factually correct — that
it is just lifestyles issues like smoking or obesity, but it’s clearly not. I
mean, we’ve shown over and over that it is not those things. So from a strictly
epistemological view, we haven’t nailed down all the connections yet, but it is
correlational.
We are studying a situation where many people are
dying, and for us to say it is only correlational and so let’s keep studying
until we know more, I think is immoral at this point.
Mining areas have higher unemployment rates and more
poverty that anywhere else in the region because these are job-destroying
activities, not job-creating ones. When you compare open cut mining with
underground mining, the amount of mineral that is produced per job is much
higher at the mountaintop site. That’s because of the use of explosives and the
use of this heavy machinery that replaces human labor with mechanized labor. So
these sites can be huge, but they require very few jobs.
Blowing up mountains, deforesting large tracts of
land, polluting streams, destroying roads from all the trucks going by, coating
the landscape in dust, making people sick — what other employers are going to
move into that area? If you aren’t lucky enough to have one of those jobs,
you’ve probably got nothing, you’ve got maybe a part-time job at the Dollar
Store. Because there aren’t other opportunities, the economic base has been
destroyed.
The perception that people have is that this is kind
of a trade-off between the environment and jobs, and it’s really not — it’s a
trade-off between the environment and the profits of a few people. »
Source:
http://e360.yale.edu/features/a-troubling-look-at-the-human-toll-of-mountaintop-removal-mining
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