“Em Paracatu, ouve-se da boca do povo que a cidade, e especialmente área da mineração da Kinross estao contaminadas por venenos como arsênio e
cianeto, tornando-se assim numa espécie de ‘campo de concentração e extermínio’.
O
sentimento de abandono, desrespeito e falta de proteção que domina a população de
Paracatu justifica essas expressões da materialização do estado de exceção,
isto é, um lugar ou campo onde a norma legal é suspensa e a exceção é
confundida com a regra. Nós não entendemos porque, dada a evidência de dano ao
ambiente e à saúde das pessoas, o Estado não nos ofereça proteção, e prefira
proteger a atividade economica danosa da Kinross. O cenário da falta de
normalidade no nosso território consiste em que a população aqui presente está
sujeita ao ‘estado de exceção’ caracterizado pela falta de garantia da
inviolabilidade do direito à vida e pela supressão do direito à saúde e ao
ambiente ecologicamente equilibrado. Essas circunstâncias apontam para a existência de um
processo destrutivo ligado à conduta negligente e omissa dos agentes. O
sentimento de perda, insegurança e abandono e a perspectiva de destruição
progressiva alcança as pessoas na forma minima da poeira que emana da mina e o
próprio aspecto horrendo da degradação da área minerada. A isto somam-se fortes
componentes psicológicos, bem como as barreiras econômicas e sociais que
impedem a fuga do território e condicionam o confinamento territorial. O efeito
da exposição contínua ao arsênio inorgânico liberado pela Kinross em Paracatu é o
adoecimento de milhares de pessoas e, consequentemente, o seu extermínio ou
morte por doenças causadas pela intoxicação crônica pelo arsênio, incluindo o
câncer. A Kinross está bem informada e ciente da quantidade exorbitante de
arsênio inorgânico presente nas rochas que ela minera em Paracatu, de que o arsênio
inorgânico que ela libera das rochas em Paracatu é tóxico e se acumula no ambiente e nos
organismos vivos, inclusive os seres humanos. A Kinross e as instituicoes governamentais
brasileiras e canadenses estão suficientemente informadas disso tudo através de
inúmeros estudos científicos publicados em revistas especializadas de circulação
nacional e internacional, inclusive os relatórios da própria Kinross, e uma Ação Civil
Publica da Fundação Acangau que corre contra a mineradora, em Paracatu, desde 2009, entre diversas outras ações. A existência destas ações é explicada pela evidência de contaminação ambiental grave, progressiva e persistente
e o aumento de casos de doenças ligadas à intoxicação crônica pelo
arsênio em Paracatu, especialmente câncer, bem como abortos espontâneos e
doenças neurológicas. A brutalidade da violação dos direitos humanos e difusos pela
Kinross em Paracatu está documentada em filmes, reportagens e um relatório recente, publicado simultaneamente no Brasil e no Canadá, pela Justiça Global e Above Ground. Finalmente, não é a primera vez que a Kinross processa seus oponentes,
pois o Dr. Sergio Dani também foi processado por ela, na Suíça, em 2015, por razões
semelhantes. Acontece que o Ministério Público suíço rejeitou a queixa da Kinross contra o Dr. Sergio e a Justiça suíca encerrou o processo da Kinross contra o Dr. Sergio. Até quando o Ministerio Público brasileiro e a Justiça brasileira vão permitir que a Kinross destrua e contamine o ambiente, prejudiquem as pessoas e depois processe os paracatuenses que não estão satisfeitos com esses abusos?”
Saiba mais:
Above Ground & Justiça Global. 2017. Swept aside: An investigation into human rights abuse at Kinross Gold’s Morro do Ouro Mine. http://aboveground.ngo/wp-content/uploads/2017/12/Swept-Aside-Kinross-Morro-do-Ouro-report.pdf.
http://alertaparacatu.blogspot.ch/2017/12/relatorio-mostra-no-brasil-e-canada.html
KGC (Kinross Gold
Corporation/Kinross Brasil Mineração SA). 2017. Kinross Brasil Mineração vs.
Gaspar Reis Batista de Oliveira. Processo n.º 0052513-60.2017, Comarca de Paracatu,
Brasil.Above Ground & Justiça Global. 2017. Swept aside: An investigation into human rights abuse at Kinross Gold’s Morro do Ouro Mine. http://aboveground.ngo/wp-content/uploads/2017/12/Swept-Aside-Kinross-Morro-do-Ouro-report.pdf.
http://alertaparacatu.blogspot.ch/2017/12/relatorio-mostra-no-brasil-e-canada.html
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