Por
Sergio Ulhoa Dani, de Berna, Suíça
Um
estudo realizado em Paracatu por uma equipe da UFMG indica que o arsênio
liberado pela mineração de ouro a céu aberto em Paracatu já está passando para diversas
espécies de plantas usadas na alimentação [1,2,3].
As
autoras do estudo mediram a concentração de arsênio nas águas e sedimentos de córregos
situados em torno da mina de ouro a céu aberto operada pela Kinross Gold
Corporation (TSE-K; NYSE-KGC) ("Kinross") em Paracatu. Elas também
mediram a concentração de arsênio em amostras de diversos vegetais usados na
alimentação, adquiridos de pequenos produtores rurais da mesma região impactada
pela mineração.
Em
diversos pontos onde foram feitas medições, as concentrações de arsênio estavam
muito acima dos padrões de qualidade estabelecidos pelas organizações nacionais e internacionais. A concentração
total de arsênio na água variou de 0,35 a 110 microgramas por litro, isto é,
até 11 vezes acima dos limites legais. Nos sedimentos, a concentração total de
arsênio variou de 738 a 2750 miligramas por kg, isto é, 125 a 466 vezes acima dos
limites legais. As concentrações de arsênio no sedimento aumentam à medida em
que diminui a distância da área da mineração.
As
autoras encontraram uma correlação entre a concentração do arsênio presente na
água e nos sedimentos e o arsênio presente nas amostras das diversas espécies
de plantas utilizadas na alimentação em Paracatu. Os níveis de contaminação estavam
abaixo daqueles encontrados nas verduras vendidas nos supermercados de Bangladesh,
onde milhões de pessoas sofrem de arsenicose [4].
Segundo as autoras, as atividades da mineração constituem as
fontes principais de liberação de arsênio para o ambiente. Elas informam que a drenagem
ácida da mina aumenta a solubilização e dispersão do arsênio para os cursos d’água
da região.
Ainda segundo as autoras, a poeira é o principal meio de
transporte das emissões de arsênio para a atmosfera. Essas partículas são
espalhadas pelo vento e retornam para o solo e cursos d’água por causa da
deposição úmida (orvalho e chuva). Mas, no presente estudo, as autoras não analisaram
o arsênio presente na poeira.
Referências e notas:
[1] Rezende PS, Costa LM, Windmöller CC. Arsenic Mobility in Sediments from
Paracatu River Basin, MG, Brazil. Arch
Environ Contam Toxicol. 2015 Feb 12. [Epub ahead of print]
[2] As
autoras do estudo, Patricia Rezende, Letícia Costa e Cláudia Windmöller são
cientistas do departamento de química da UFMG-Universidade Federal de Minas
Gerais. A colheita de amostras para o estudo foi realizada pelas autoras entre
os anos de 2010 e 2011. O estudo foi publicado em janeiro de 2015 na revista Archives of Environmental Contamination and
Toxicology, uma revista especializada com corpo editorial e de circulação
internacional.
[3]
Sobre resultados preliminares deste estudo, leia também o comentário publicado
em 2010: http://alertaparacatu.blogspot.ch/2010/04/estudos-fornecem-novas-provas-contra.html
[4]
Em Bangladesh, a principal via de exposição ao arsênio é a via digestiva,
através da ingestão de água contaminada. Em Paracatu, a via respiratória responde por
importante parcela da exposição ao arsênio. A exposição total é o somatório da
exposição por todas as vias.
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