Serrano Neves
Chego em Paracatu e o parceiro Dr. Sergio Dani (Fundação Acangaú) me recepciona com um exemplar da edição 15 de O Lábaro (parabéns Uldicéia).
Após abraços folheio rapidamente e em página inteira vejo que a Kinross anuncia um CANAL ABERTO em letras abertas.
As empresas normalmente têm seus canais para reclamações e algumas até são obrigadas a tê-los para atender consumidores, mas este caso se apresenta diferenciado.
Muitos anos de pressão minerária sobre a comunidade criaram relações difíceis, desde acomodação diante do que se imaginava inevitável e deveria ser suportado a custos não avaliados, até erupções de indignação diante da pressão.
Quem acompanhou de perto o movimento liderado pela Fundação Acangaú, mesmo os indignados, não acreditou que alguma coisa pudesse mudar, principalmente quando um deputado, na audiência pública, defendeu, com a faca nos dentes, os direitos minerários para o progresso.
Na sessão de "tapas" brilhou Irineu, que mandou dizer para o "faraó" que aqui tem gente que não se curva.
E foi essa gente que apoiou o movimento, quase apanhou da polícia, foi presa e processada.
Por detrás do movimento sempre houve nossa lealdade e compromisso no sentido de melhorar as coisas e estabelecer melhores relações, e havia, como não poderia deixar de haver, a confiança de que a Kinross abrigava inteligências capazes de perceber isto, e era só uma questão de tempo.
O tempo correu, e até correu curto, e a Kinross acenou que para além das práticas formais de responsabilidade sócio-ambiental cumpridas à letra da lei, compreendia ter uma responsabilidade constitucional acima da lei, capaz de interagir com a comunidade e, digamos, "acertar os ponteiros".
Esta minha percepção não assinala uma etapa de "beijos" após os "tapas", é fruto de muitos anos de reflexão como pode ser visto no texto "Paralelo 666" publicado n'O Lábaro.
O ajuste parece ser mais fácil para nós que já assimilamos o conceito de função social da propriedade e pensamos de modo informal, embora operemos com informação de boa qualidade científica.
Para a Kinross pode ser mais trabalhoso entrar no círculo da função social da propriedade, em razão do histórico - como qualquer outra empresa - necessário de práticas para alcançar os objetivos comerciais.
A Kinross veio para a mesa de negociações com a face amigável que pedimos, para aprender a falar o "cidadanês".
O cidadanês é uma língua meio difícil porque as palavras têm várias pronúncias, mas a Kinross demonstrou - com habilidade e agilidade, que quer ouvir e conhecer as variações.
Canal Aberto, em letras claras e página inteira, é o marco fundamental de um processo de construção que se abre para a participação direta da comunidade, é uma expressão real de que a sociedade alvo da função social é um "parceiro funcional" capaz de dizer o que quer, conforme seus anseios e sua cultura.
Ao reconhecer isto a Kinross demonstra sensibilidade, elemento necessário para o estabelecimento do convívio com base em valores humanos.
A recente crise mundial que evaporou centenas de bilhões de dólares está mostrando que os ativos financeiros e físícos podem ser ouro num dia e lata no dia seguinte, e aí todos terão que viver com lata. Lata não dá para distribuir como benefício, mas dá para (com)partilhar, e partilha só se faz com gente de quem a gente gosta e com quem a gente convive.
Nossos parceiros na comunidade - e a própria Kinross - haverão de entender que essa primeira fase ainda é de "entre tapas e beijos", diante de previsíveis conflitos entre a técnica e a cidadania, e alguns lances mais duros poderão acontecer lado a lado com lances diplomáticos, nada, porém, que uma canja da noite no Veredas ou um filé do meio-dia no Frater, compartilhados, não consigam colocar nos devidos lugares.
Função social da propriedade é coisa simples: é alguma coisa que funciona na sociedade e cria o bem estar para todos, e foi isto que a Kinross fez: abrir um canal para ouvir o "cidadanês" e conversar conosco na nossa própria língua.
Parabéns para nós todos, principalmente para a comunidade.
Dr. Paulo,a nossa mãe terra agradece os avanços conseguidos pelo esforço de concientização destas grandes empresas,que interferem diretamente em nosso meio ambiente.
ResponderExcluirUm Grande Abraço....
RONALDO
JUIZ DE FORA- MG
Dr. Paulo,a nossa mãe terra agradece os avanços conseguidos pelo esforço de concientização destas grandes empresas,que interferem diretamente em nosso meio ambiente.
ResponderExcluirUm Grande Abraço....
RONALDO
JUIZ DE FORA- MG
Gosto de ver os cidadãos paracatuenses começando a abrir a cabeça e ver que a rpm não é a empresa "Amiga" na qual eles tanto falam. Espero que continue assim, a mobilização deve continuar e sei que nossos esforços não vão ser em vão.
ResponderExcluirAgradeço a vocês que montaram este blog e atuam em jornais.
Vocês se iludem ao pensar que a Kinross em um só segundo pensou em entrar em acordo com os cidadãos por consciência ambiental.Infelizmente o modo de pensar deles é diferente, essa é apenas mais uma estratégia de marketing para que não descubramos não somente as consequências da atividade mineradora, mas também as fraudes e subornos que envolvem a empresa e ambientalistas. Se a população fica "quietinha", tudo fica bem melhor para eles. Como dizia a minha avó "Bosta quanto mais mexe mais fede".
ResponderExcluirDenise, para as empresas é mais difícil adquirir consciência ambiental, mas não é difícil adquirir postura ambiental correta.
ResponderExcluirO que precisamos é demonstrar para as empresas que nós, o povo, não aceitamos outra postura porque é nossa saúde e nossa vida que estão em jogo. Precisamos acreditar que existem pessoas sérias na Kinross, principalmente brasileiros que nela trabalham. Somos experientes o suficiente para não nos deixarmos enganar. Nos ajude a conscientizar a população paracatuense para exigir um meio-ambiente saudável. Obrigado por interagir.
Denise, postura ambiental, ética e moral,é o que
ResponderExcluirnão faltam para essa turma que tem conseguido avanços tão representativos em sua comunidade.
Participe junto a eles, o nosso meio-ambiente
retribui harmoniosamente.
Ronaldo
Juiz de fora - MG
Dr. Ronaldo, bom dia!!
ResponderExcluirGostaria de saber porque a RPm não permiti a entrada de alguns ex-funcinários, mesmo que estes estejam a trabalho. Alguém pode me ajudar?
Isso é discriminação ou por ser uma empresa particular ela tem esse direito?
Caro anônimo, não respondo pela RPM, mas sua pergunta envolve discriminação, e isto é uma questão jurídica, da minha seara.
ResponderExcluirUma empresa privada pode sim restringir a entrada e circulação de pessoas no seu espaço de operação, principalmente as que tem operações que são consideradas de risco para quem não está a par de todas as normas de segurança, ou que possam interferir nas rotinas de produção. Muitas empresas mineradoras mantém programas de visitação previamente agendados. Ligue e confira.