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quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Paulo Mauricio Serrano Neves

Paulo Mauricio Serrano Neves*

"Paracatu de um tempo curto que marcou a minha vida de tal forma que 50 anos depois ainda sou capaz de descrever a Ana do Seu Teixeira cavando a cacimba na margem do Córrego Rico enquanto a roupa - lavada em águas cristalinas - quarava. Não escrevo pela saudade, escrevo pela água. Vi, em 1985, o desastre ambiental causado pela mineradora no Córrego Rico. Chorei e escrevi a respeito. Por algumas vezes - em viagem - passei por Paracatu e fechei os olhos para não ver o desastre. O povo de Paracatu suportou - não sem sofrimento - o desenvolvimento conjuntural que começou com os peões que construiam a rodovia engravidando as moças e sumindo no mundo. O córrego que alimentava as famílias dos desempregados com algumas gramas de ouro de bateia sob o sol, foi transformado em desenvolvimento. O meio ambiente pagou a conta e o povo está sofrendo com a falência ambiental. Canto o "... ou ficar a Pátria livre ou morrer pelo Brasil ..." que aprendi ai em Paracatu. Nós, os paracatuenses natos, adotados (como meu pai Geraldo Serrano Neves) ou "embengados" como eu, não merecemos tal legado de destruição. Precisamos agir com firmeza cidadã, sem temor de represálias, como aprendi também ai: "Quem não pode com mandinga não carrega patuá." Ou enfrentamos essa mineradora com a decisão de fazê-la pagar pelos danos, à margem do que os políticos e outros ditos poderosos queiram, ou aceitemos o diploma de subdesenvolvidos, tolos ou miseráveis que aceitam "cestas" de compensação em troca da dignidade e do meio-ambiente. Sou ambientalista ativo aqui em Goiás, com bons resultados obtidos através de parceiros de igual tutano. O Inferno é pouco para esses predadores ambientais e fazê-los restaurar o equilíbrio ambiental quebrado às custas do discurso de que estão "dentro da lei" e da conveniência ou omissão das autoridades é o mínimo que pode ser feito em nome da cidadania e da dignidade. Creiam que se a população de Paracatu morresse por inteiro ou por inteiro mudasse a mineradora festejaria a liberdade de não ter que confrontar-se com pessoas humanas. Creiam que algumas (ou muitas) consciências estão sendo inconscientemente cooptadas pela geração de impostos, empregos ou renda. Impostos, empregos e renda não podem ser legados aos descendentes e, se pudessem, não sustentariam, com qualidade, a vida deles. Como dizemos aqui em Goiás, de forma ultra-concisa: "ferro no boneco".

* Serrano Neves é Procurador de Justiça Criminal de Goiás (na ativa) e diretor do Instituto Serrano Neves (www.serrano.neves.nom.br) com sede em Uruaçu-GO, de onde estimula e articula a defesa do Lago da Serra da Mesa, o maior reservatório de água doce (em volume) do Brasil.

 

4 comentários:

  1. Prezado Paulo Maurício Serrano Neves,

    Não conheci seu pai, mas lembro-me que uma vez ganhei de presente um livro de Oliveira Melo chamado "Copo Quebrado". Ele publicava algumas poesias de seu pai que me deixaram fascinada, tanto que as decorei todas. No momento estou prestando serviço temporário na Embaixada do Brasil no Togo, onde resolvi dar um curso de português para os funcionários locais, que são todos togoleses e não falam português. Querendo mostrar-lhes algumas poesias brasileira, lembrei daquela poesia que decorei quando adolescente "Balanço" e resolvi consultar o google para ver se não estava sendo traída pela memória e foi assim que lhe encontrei.
    Concordo inteiramente com o seu texto e já tivemos na família pessoas que morreram porque bateavam ouro no finado córrego rico e se contaminaram.
    abraços,

    Benedita Gouveia Damasceno

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  2. Benedita, prazer em conhece-la, obrigado pela lembrança de papai, todos os seus poemas em http://brinquedocomodestino.blogspot.com.br/

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  3. mauricio lembro vagamente de ti e me parece q vc tem 1 irmao fred conheci seu pae sempre de terno de linho branco vcs moravam no largo do santana, curtia e curto ainda suas poesias (saudade e a q + gosto)1 abraçao amigo

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